Fux surpreende e inaugura uma nova fase: “de juiz severo para juiz garantista”

Fux surpreende e inaugura uma nova fase: “de juiz severo para juiz garantista”

11 de setembro de 2025 0 Por Redação Em Notícia

Ministro questiona competência do STF para julgar o ex-presidente e outros réus, alegando falta de provas e cerceamento de defesa; decisão repercute internacionalmente

Diferente do que todos esperavam, o ministro Luiz Fux deu uma guinada em seu histórico de decisões, desde sua participação no caso do Mensalão, o Petrolão e inclusive no julgamento dos atos do 8 de janeiro de 2023, com réus de menor ou nenhuma expressão.

Anúncios

Em um voto que se estendeu por mais de 13 horas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux abriu divergência na Primeira Turma e votou pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado. A decisão, que reverteu o entendimento de seus pares, gerou repercussão internacional, com veículos de imprensa destacando o rompimento de Fux com os demais ministros.

Fux argumentou que o STF seria incompetente para julgar o caso, uma vez que os réus não possuiriam foro privilegiado, especialmente após o fim de seus respectivos cargos (uma retumbante contradição ao se observar suas decisões, por exemplo, ao que teve com a “Débora do batom”). Ele defendeu que o processo deveria ser remetido à primeira instância ou, alternativamente, ser julgado pelo Plenário da Corte, e não por uma de suas Turmas. O ministro também alegou que a defesa enfrentou cerceamento de defesa, diante do vasto volume de provas apresentado pela acusação, que ele classificou como um “tsunami de dados”.

Anúncios

A divergência de Fux, que votou pela condenação de Mauro Cid e Walter Braga Netto por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, mas absolveu Bolsonaro dos crimes de tentativa de golpe e organização criminosa, aumenta a tensão em um julgamento que já polarizou o país. A decisão, entretanto, servirá mais como argumento político para a base aliada ao ex-presidente para tentar emplacar o projeto de lei de anistia “ampla, geral e irrestrita”, além de argumentações para o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, usar contra o Brasil em sua missão de envenenar presidente dos EUA, Donald Trump, contra os ministros da Suprema Corte (exceto ele próprio, por óbvio).

Anúncios

Por outro lado, contrariamente ao que muitos imaginam, o périplo por recursos após o final do julgamento não será longo e nem exaustivo.  Pois, ao se analisar o trâmite célere deste julgamento (lembrado e destacado por Fux), é certo que até o final deste ano (possivelmente antes do Natal – impressões deste editor), haverá o esgotamento do recurso das defesas de Bolsonaro e os sete corréus. Isto, pois, dentre os recursos que seriam possíveis, restou-se apenas um!

Vejamos.  Aquele que as defesas mais gostariam de virem confirmar-se, os Embargos Infringentes, para que ocorra em decisões julgadas pelas Turmas do STF, necessitaria que dois magistrados julgassem em prol dos réus (mas a chance é que Fux fique sozinho neste patamar), o que levaria para o Pleno do STF analisar o julgamento e haver, inclusive, pedidos de vistas de ministros.  Não haverá!  Outro recurso seria os Embargos de Declaração, que não tem o condão de reverter a decisão, mas esclarecer pontos obscuros.  Este recurso, algumas vezes entendido como protelatório, só é possível quando há decisão por unanimidade de seus ministros. Portanto, também será fato superado.  Por fim, resta apenas o Recurso Extraordinário.  Este remédio jurídico é usado apenas quando versam sobre a Constituição Federal. As principais características são a finalidade de unificar a interpretação constitucional, o fato de ser um recurso de cabimento restrito, a exigência de repercussão geral, o prequestionamento da matéria constitucional e a necessidade de ofensa direta e frontal à Constituição (argumentos levantados por Luiz Fux), e que deverá ser analisado pela 1ª Turma até meados de dezembro de 2025, não restando, após esta decisão, nada mais a se fazer. 

A imprensa internacional reagiu ao voto de Fux. O Al Jazeera ressaltou a declaração de “incompetência absoluta” da Primeira Turma, enquanto a Associated Press noticiou o alívio que o voto de Fux trouxe a Bolsonaro e possíveis argumentos para sua defesa em instâncias superiores. A agência EFE e o jornal La Nación também citaram a defesa da incompetência do STF e a possibilidade de uma pena elevada para Bolsonaro.

A divergência de Fux ocorre em um contexto de forte polarização política. Enquanto o julgamento prossegue com os votos dos demais ministros da Primeira Turma – Cármen Lúcia e Cristiano Zanin –, a expectativa é que o caso seja definido nesta tarde com a maioria formada pela condenação de Bolsonaro e demais corréus, e que o julgamento tenha a prolação da sentença realizada nesta sexta-feira, após o voto do presidente da turma, Cristiano Zanin, que modulará a dosimetria das penas de todos os réus condenados.

Compartilhe:
Anúncios