Frustração e Expectativa: Uma Discussão Sobre Doce de Leite

Frustração e Expectativa: Uma Discussão Sobre Doce de Leite

30 de setembro de 2021 0 Por Redação Em Notícia

Olá, caro leitor! Seja bem-vindo a mais uma coluna nesta semana. Como você está por aí? Espero que bem!

No texto de hoje eu te convido para uma reflexão que eu tive por esses dias devido a um ocorrido um tanto quanto engraçado (para não dizer trágico) que aconteceu comigo.

Sexta-feira passada, dia 24 de setembro, foi meu aniversário e como de costume desde que me tornei cozinheira eu comecei a me preparar para fazer o bolo, li uma receita aqui, assisti outra receita ali e finalmente decidi que meu bolo teria como estrela principal o doce de leite argentino artesanal da Paola Carosella que a mesma cita no vídeo que o faz por cerca de 30 anos ou mais (guarde essa informação).

Pois bem, eu toda cozinheira aventureira vi e revi o vídeos de Paola várias vezes e para mim pareceu bem fácil, era basicamente (beeeeem basicamente) colocar leite e açúcar numa panela, levar ao fogo e deixar ali por 9 horas, isso mesmo NOVE HORAS. E é aqui que eu te pergunto: eu preciso mesmo enrolar mais para dizer que deu tudo errado?

As primeiras 5 horas foram de pura confiança e alegria, o recheio do meu bolo estava dando certo, eu estava gravando para os meus seguidores do Instagram (@ahnectarina) e estávamos todos ansiosos pelo resultado! Porém as outras duas horas que totalizaram 7 horas de cozimento foi o que fez aquele que já era quase como que um filho para mim (foram muitas horas, sabe?) dar COMPLETAMENTE ERRADO.

A frustração foi gigantesca, mas mesmo assim eu gravei para a galera mostrando que tinha desandado tudo, acabei que desisti de fazer o bolo (comprei um pronto delicioso) e me coloquei para pensar.

A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi “meu Deus, que vergonha! Criei uma expectativa enorme não só em mim como nos outros e coloquei meu trabalho a prova”, a segunda foi “nada disso, nem ficou tão ruim assim, vou usar do mesmo jeito” e a terceira com muito custo e conselhos de minha mãe foi “que pena! Mas tudo bem, acontece! Cozinha é teste, erro e acerto” e foi aí que eu decidi não usar mais o doce de leite que não era mais doce de leite (e não estava tão ruim assim, comemos do mesmo jeito) para fazer o bolo e gravei uns vídeos para quem estava acompanhando o processo dizendo que está tudo bem em falhar e se frustar. E eu que estava ali toda tímida e chateada recebi um feedback tão divertido de pessoas me pedindo para testar mais coisas ao vivo, me dando os parabéns por ter tentado, me incentivando a testar de novo e é sobre essa reflexão que eu quero falar um pouco aqui hoje!

Quando eu digo que cozinha é teste e é errando que se aprende é o que eu quis dizer quando disse para vocês guardarem a informação de que a Paola chegou na perfeição que é o doce de leite argentino dela durante uma longe caminhada de 30 anos fazendo a mesma receita, aprimorando, estudando, testando.

Sabe a famosa frase que diz que qualquer um pode cozinhar? Eu gosto muito de complementa-la dizendo que nem todo mundo pode ser cozinheiro e é muito sobre isso que se trata a minha profissão. Cozinhar vai muito além de ter dom ou amor pela cozinha, por trás existem muitos, mas muitos mesmo testes, estudos e mão na massa para chegar na melhor versão do que quer que seja que estejamos fazendo dentro de uma cozinha.

Então, moral da história: se até mesmo cozinheiros e chefs formados e com experiência podem errar (que foi o meu caso) e se frustrar com expectativas em cima de algo que claramente ainda precisa de muita aprimoramento, qualquer um também pode acabar errando, é humano, não é?

Uma vez eu ouvi de uma amiga minha que é uma artista maravilhosa que faz quadros incríveis que ela não tinha nascido com dom nenhum, que talvez ela pudesse ter uma facilidade aqui e outra ali em desenhar e pintar, mas é que a realidade do trabalho dela hoje em dia é fruto de muito treino e estudo. Naquele dia minha mente explodiu, confesso.

A muito o que se diz sobre cada pessoa ter um  dom específico para algo e nessa de passar a vida procurando algo que seja seu dom por natureza se perdem milhares de oportunidades de aprender e se aprimorar em algo, ninguém nasce sabendo 100% nada e já dizia Chacrinha “Nada se cria, tudo se copia”.

Eu quando era mais jovem não chegava nem perto de uma panela porque achava que não conseguiria e cá estou hoje falando sobre Gastronomia toda semana para você como Chef convidada do Portal. Eu também achei, por exemplo, que não seria nunca capaz de dirigir um carro, para mim era complexo demais e hoje eu vou e volto de tudo quanto é lugar.

Se você quer começar a aprender algo, se você tem vontade de cozinhar, pintar, dançar ou o que seja e tem medo de falhar, medo de se frustrar com expectativas altas eu tenho um conselho para te dar: vai com medo mesmo! É isso aí mesmo que você leu. Se está com medo, vai com medo mesmo!

A Paola Carosella mesmo em entrevista disse uma vez algo do tipo: “os corajosos não são aqueles que fazem as coisas e não sentem medo, eu acho que isso não existe. Eu acho que os corajosos são aqueles que sentem muito muito muito medo mesmo e dentro desse medo eles vão lá e fazem”.

Eu levo essas filosofias para a vida e também para dentro da minha cozinha, espero ter conseguido te colocar para pensar um pouco sobre o assunto!

Se você chegou até aqui te agradeço pela atenção e até a próxima coluna. Beijinhos.

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