Intermediador que denunciou corrupção na compra das vacinas depôs hoje na CPI

Intermediador que denunciou corrupção na compra das vacinas depôs hoje na CPI

1 de julho de 2021 0 Por Redação Em Notícia

O empresário Luiz Paulo Dominguetti afirmou nesta quinta (01/07) à CPI da Covid que o deputado Luis Carlos Miranda (DEM-DF) procurou a empresa Davati Medical Supply para tentar intermediar uma compra de vacinas

BBC Brasil

Dominguetti apresentou um áudio de WhatsApp do deputado. Miranda, porém, negou que o tema fosse negociação de vacinas e afirmou que se tratava de outra compra, não relacionada aos imunizantes e negociada em 2020.

Dominguetti se apresenta como representante da Davati e foi convocado à CPI para falar sobre denúncia que fez ao jornal Folha de S. Paulo de que teria recebido pedido de propina do Ministério da Saúde para compra da vacina da AstraZeneca.

Durante o depoimento Dominguetti citou Miranda, envolvido em outro escândalo de compra de vacinas, o da Covaxin.

Miranda é irmão do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação, que disse ao Ministério Público Federal (MPF) ter sofrido uma “pressão incomum” de outra autoridade da pasta para assinar o contrato com a empresa Precisa Medicamentos, que intermediou o negócio com a Bharat Biotech, produtora da vacina Covaxin.

Luis Ricardo teria alertado o irmão sobre os problemas na compra – como um valor muito acima do que inicialmente tinha sido prospectado. Alinhado ao governo, o deputado disse que avisou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as irregularidades.

Segundo Dominguetti, o deputado Miranda seria um dos diversos deputados que teriam procurado a Davati para tentar intermediar a compra de vacinas.

O vendedor apresentou um áudio à CPI que teria sido enviado pelo deputado para uma pessoa da empresa. Dominguetti afirmou que recebeu o áudio de outro representante da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.

No áudio, uma voz que parece ser de Luis Carlos Miranda, afirma que tem um comprador, mas não cita vacinas.

“Então irmão, o grande problema é, vou falar direto com o cara, o cara vai pedir toda documentação do comprador. O comprador meu já está de saco cheio disso, vai pedir a prova de vida antes e a gente não vai fazer negócio”, diz a voz.

“Então nem perde tempo, que eu tenho o comprador e ele pode fazer o pagamento instantâneo, que ele compra o tempo todo lá, quantidades menores. Se o seu produto tiver no e você fizer um vídeo, ‘Luis Miranda, aqui meu produto’, o meu comprador entende que é fato, ok? E encaminha toda a documentação necessária”, diz a voz.

“Eu nem vou perder tempo porque tem muita conversa fiada no mercado. Desgastou muito, meu irmão, nos últimos 60 dias.”

A CPI entrou uma discussão sobre se o termo “meu irmão” usado no áudio era uma gíria ou uma referência ao irmão do deputado.

Segundo Dominguetti, o áudio foi enviado por Cristiano Alberto Carvalho quando Miranda depôs na CPI.

À tarde, o celular de Dominguetti foi levado pela polícia para passar por uma perícia.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AL), afirmou que Luis Miranda já está convocado para voltar à CPI e seu depoimento não será em reunião secreta. A CPI entrou uma discussão sobre se o termo “meu irmão” usado no áudio era uma gíria ou uma referência ao irmão do deputado.

Confusão na CPI

A mudança de assunto gerou uma enorme confusão na comissão.

O senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) começou a defender o depoente – que inicialmente fazia acusações ao governo – após senadores questionarem suas motivações.

Omar Aziz havia lembrado ao depoente que ele estava sob juramento de dizer a verdade.

“Não venha achar que aqui todo mundo é otário”, afirmou Aziz. “Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda… Chapéu de otário é marreta.”

Após ser citado por Dominguetti, Luis Miranda foi ao Senado e disse que iria “mandar prender” o depoente.

“Ele está mentindo”, afirmou em voz alta aos jornalistas que faziam a cobertura no local. “Quero saber quem plantou esse cara na CPI”, afirmou o deputado.

Segundo Miranda, o áudio é de 15 de outubro de 2020 e não se trata de vacinas, mas do fornecimento de luvas médicas. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) levou à CPI a transcrição das mensagens e áudios do celular de Miranda registrados em cartório, que supostamente provariam isso.

Dominguetti respondeu que foi induzido a acreditar que se tratava de vacinas pela forma como o áudio foi recebido, por intermédio de Cristiano Carvalho.

Vieira pediu que a CPI avaliasse a possibilidade de mandar prender Dominguetti ao final da sessão, por suposto falso testemunho.

Omar Aziz disse que não tinha intenção de prendê-lo, “porque imagino seus filhos e esposa te vendo neste momento. Mas o senhor confia nesse Cristiano que lhe passou esse áudio?”. “Nunca tive motivos para desconfiar”, respondeu. Agregou que não sabia que o áudio estava editado.

“Sua vida não muda para melhor a partir de hoje”, agregou Aziz, ao propor uma acareação entre todos os citados por Dominguetti.

Cristiano Alberto Carvalho, da Davati, afirmou ao jornal O Globo que o áudio não se referia a vacinas, mas aos negócios de Miranda nos EUA.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou no Twitter que “é evidente que há uma tentativa de tumultuar e desmoralizar a CPI.”

“Faz parte disso, a desqualificação do deputado Luiz Miranda que afirmou ter levado a Bolsonaro denúncia de corrupção na compra da Covaxin. O jogo é extremamente bruto”, escreveu o senador.

Foi quando o senador Randolfe Rodrigues propôs a apreensão e lacração do celular de Dominguetti, e assinatura de termo circunstanciado.

Mais à tarde, o senador Rogerio Carvalho (PT-SE) acusou Dominguetti de tentar “desacreditar o depoimento” de Luis Miranda, como suposta tentativa de tentar preservar a cúpula do governo federal. “Ele (Dominguetti) foi plantado para desqualificar uma das principais linhas de investigação da CPI e tirar foco do comandante-chefe de corrupção” no Ministério da Saúde, em uma referência velada ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), sob quem recaem essas acusações – as quais ele nega.

A fala gerou críticas de senadores governistas, que negaram a acusação de “plantar” testemunhas.

NOTA – Manifestação OFICIAL DAVATI

A Davati Medical Supply esclarece que seu representante no país, Christiano Alberto Carvalho, informou a empresa sobre a necessidade do Brasil de adquirir vacinas para combate à Covid-19. A partir disso, a empresa localizou um distribuidor que afirmou ter uma alocação de produção de aproximadamente 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca®. A Davati, então, por iniciativa própria, contatou o governo brasileiro para verificar se havia interesse nessas doses e se disponibilizou para intermediar. Este é um procedimento normal de negociação, praticado por todos os alocadores e distribuidores.

O contato se deu através de email, enviado em 26 de fevereiro deste ano pelo executivo da Davati, Herman Cardenas, a Roberto Dias. No mesmo dia, o representante da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, recebeu retorno do email, por parte do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, confirmando interesse no lote de vacinas e agendando encontro para discutir sobre a negociação.

Na oportunidade, o único representante credenciado da Davati no Brasil, Christiano Alberto Carvalho, compareceu ao Ministério da Saúde para tratar sobre a possível negociação, que no decorrer dos dias seguintes não evoluiu, visto que a empresa não recebeu retorno do governo brasileiro com formalização do interesse ou perspectiva de fechamento do negócio, com uma Carta de Interesse.

Sobre o senhor Luiz Paulo Dominguetti Pereira, cabe reiterar que ele não possui vínculo empregatício com a Davati, atuando como vendedor autônomo. Nesse caso, ele apenas intermediou a negociação da empresa com o governo, apresentando o senhor Roberto Dias. Sobre a denúncia relatada por Dominguetti, de que o Ministério da Saúde teria solicitado uma “comissão” para a aquisição das vacinas, a Davati afirma que não tem conhecimento.

O Grupo Davati

O Grupo Davati é uma holding fundada pelo empresário Herman Cardenas, com sede no Texas, Estados Unidos, que possui vários negócios no estado. A Davati Medical Supply é uma subsidiária do Grupo Davati, que desde 2014 também atua como distribuidora em todo o mundo.

Compartilhe: