Em vez de esclarecer pontos sombrios de denúncia, Governo Bolsonaro dá sinais de desespero
23 de junho de 2021Deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luis Ricardo Miranda, servidor público concursado, chefe de importação de insumos do Ministério da Saúde, denunciaram possíveis irregularidades em compra da vacina Covaxin, do laboratório indiano Barat/BioNTech. A denúncia feita à Polícia Federal durante coleta de depoimento, tornou-se pública após pedido da CPI da COVID-19 instalada no Senado.
Segundo o noticiado, tanto o deputado quanto o seu irmão prestarão depoimento na CPI nesta sexta-feira e espera-se que os fatos que serão apresentados aos senadores sejam bombásticos, visto que o deputado Luís Miranda teria afirmado: “o que eu tenho a dizer só pode ser feito na CPI, pois pode derrubar a República”. Segundo o Vice-Presidente da CPI, Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), não foi nem o deputado e nem o servidor que teriam se oferecido a depor, a CPI tomou conhecimento do teor e solicitou os documentos do depoimento junto à Polícia Federal.
Nesse depoimento, o servidor Luís Ricardo Miranda teria afirmado que sofria pressão direta de seu chefe, diretamente indicado pelo então Ministro da Saúde Eduardo Pazuello, para que aprovasse a compra da vacina indiana sem qualquer aprovação da ANVISA sobre segurança, eficiência e eficácia da vacina, e tendo valor 1.000% maior que se comprado diretamente do laboratório indiano, mas que nesse caso era “obrigado” a fazer a compra por intermédio de uma empresa “atravessadora” – Precisa Medicamentos -, como foi adjetivado pelo Senador Renan Calheiros (MDB-AL), e cuja empresa teria como sócio, personagem envolvido em negociação fraudulenta entre o Ministério da Saúde e terceira empresa que até o momento não havia entregue os remédios comprados, gerando um prejuízo de R$ 20 milhões ao Governo Brasileiro.
E diante de todo o levantado, de todas as suspeitas que recaem sobre o Planalto em uma suspeita de corrupção trazidas pelo deputado aliado e seu irmão, o Secretário-Geral da Presidência da República Onyx Lorenzoni em vez de trazer respostas para pacificar a questão, esclarecendo os pontos obscuros, faz um pronunciamento de coação contra as supostas testemunhas dessa denúncia, incorrendo em possível interferência em outro Poder, em uma aparente tentativa de intimidar testemunhas e investigadores. O certo em tudo isso é que o Planalto sentiu o golpe desferido e busca obstruir as possibilidades de trabalho da CPI que ouvirá ambas testemunhas nessa sexta-feira (25).
A sombra da corrupção bateu à porta do Presidente no mesmo dia em que caiu o Ministro do Meio Ambiente por supostas responsabilidades em exportação ilegal de madeira, agindo em conluio com madeireiros ilegais, que levou à prisão do Presidente do ICM-Bio e a queda de toda a cúpula do IBAMA.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, informou que o governo pedirá à Controladoria Geral da União (CGU) e à Procuradoria Geral da República (PGR) que investiguem o servidor Luis Ricardo Miranda e o irmão dele, o deputado Luis Miranda, acusando-os diretamente de terem falsificado documentos para realizarem uma denúncia caluniosa contra o Governo. O Governo foi ao ataque.
“Vamos, nesse PAD [Processo Administrativo Disciplinar, na CGU] e junto à Procuradoria Geral da República, pedir abertura de investigação do deputado Luis Miranda e do servidor Luis Ricardo Miranda, baseados no artigo 339 do Código Penal, [por] denunciação caluniosa, e do artigo 347, [por] fraude processual”, afirmou Onyx.
As negociações sobre a importação da vacina são alvos do Ministério Público e da CPI da Covid. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), a Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo governo federal até agora: R$ 80,70 a unidade, valor quatro vezes maior que a vacina da Fiocruz, a AstraZeneca.
O contrato para a compra da Covaxin foi firmado entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos, empresa responsável pela ponte entre o governo federal e o laboratório que produz a vacina na Índia. A empresa é a única intermediária que não possui vínculo com a indústria de vacinas.
De fato a República emergiu na lama e a dialética apresentada pelo Governo Federal, de que não havia qualquer indício de corrupção ao Presidente ou seus ministros mostrou-se uma falácia. Mais que isso, coloca em xeque qualquer possibilidade de pretensa reeleição de Bolsonaro que vem desafiando o bom senso, a legislação e mesmo a Constituição Federal desde o seu primeiro dia de governo. O rei está nu!