Paulo Cupertino Matias é condenado a 98 anos por homicídio de ator Rafael Miguel e pais

Tribunal do Júri em São Paulo considera réu culpado por triplo homicídio qualificado, após julgamento de dois dias que revelou detalhes do crime e da fuga

Paulo Cupertino Matias foi condenado a 98 anos de prisão em regime inicial fechado pelo triplo homicídio qualificado do ator Rafael Miguel, de 22 anos, e de seus pais, Miriam Selma Miguel, de 50, e João Alcisio Miguel, de 52. A decisão foi proferida pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, que encerrou o julgamento na noite desta sexta-feira (30) no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Os sete jurados que compuseram o Conselho de Sentença consideraram que Cupertino foi o autor dos disparos que resultaram nas mortes, ocorridas em 9 de junho de 2019. O julgamento, que teve duração de dois dias, incluiu depoimentos de testemunhas e dos réus, além de intensos debates entre acusação e defesa.

Desenvolvimento do Julgamento

A primeira sessão do júri, realizada na quinta-feira (29), durou 11 horas e foi dedicada à oitiva das testemunhas e dos réus. Paulo Cupertino Matias, em seu depoimento, negou a autoria do crime. Além dele, foram ouvidos Wanderley Antunes Ribeiro Senhora e Eduardo José Machado, que eram acusados de auxiliar na fuga do réu. Ambos foram absolvidos a pedido do Ministério Público (MP).

Nesta sexta-feira (30), o foco do julgamento foi nos debates orais. A acusação, representada pelo promotor Thiago Alcocer Marin e pela assistente de acusação Maria Gorete Silva Carvalho, teve 2h30 para apresentar sua tese ao Conselho de Sentença. O mesmo tempo foi concedido à defesa do réu para expor seus argumentos, com tempos iguais para réplica e tréplica. A sessão desta sexta-feira ultrapassou 10 horas de duração, culminando na votação dos jurados e na subsequente prolação da sentença pelo juiz Antônio Carlos Pontes de Souza.

O Crime e a Fuga

O triplo assassinato ocorreu em 2019, no bairro de Pedreira, zona sul da capital paulistana. De acordo com a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Paulo Cupertino Matias assassinou o ator e seus pais por não aceitar o relacionamento da filha, Isabela Tibcherani, que na época tinha 18 anos, com Rafael Miguel. A família do ator havia ido ao local para conversar com Cupertino sobre o namoro.

A denúncia do MPSP indica que Cupertino efetuou 13 disparos contra as vítimas. Após o crime, o acusado empreendeu fuga, passando por Mato Grosso do Sul e, posteriormente, pelo Paraguai. Cupertino permaneceu foragido por quase três anos, sendo localizado e preso em maio de 2022 em um hotel na Avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo, após uma denúncia anônima. Na ocasião da prisão, ele portava objetos que indicavam intenção de disfarce, como bengala, tintura de cabelo e chapéus.

O MPSP acusou o empresário de triplo homicídio qualificado. A pena para homicídio qualificado no Brasil varia de 12 a 30 anos de reclusão.

Argumentos da Defesa sobre a Fuga

Durante o julgamento, o promotor Thiago Alcocer Marin utilizou o período em que Cupertino esteve foragido como um indício de sua culpa. Em contrapartida, a defesa do réu, representada pela advogada Juliane Santos de Oliveira, argumentou que a fuga foi motivada pelo medo de retaliações e pelo que chamou de “linchamento midiático”.

“Qual segurança o Paulo sentiria ao se entregar em uma delegacia? Qual segurança que o homem periférico iria ter que não iria acontecer nada com ele? Estar foragido não é nota de culpa”, declarou a advogada. A defesa também alegou que Cupertino teria tentado se entregar à polícia após o crime, mas desistiu ao ver que seu advogado estava concedendo uma entrevista nas proximidades de uma delegacia.