Canção do Exílio

Canção do Exílio

27 de fevereiro de 2025 1 Por Redação Em Notícia
Corria o ano de 1843. Nos corredores da Universidade de Coimbra comentava-se a crítica literária de que no Brasil não se sabia fazer poesia. Dizia ser uma poesia pobre, sem expressão, sem métrica e sem rima. Sem alma.
Um jovem, estudante de Direito, de apenas 20 anos, de Caxias, Maranhão, ouve a crítica corrente em Portugal e resolve provar o contrário. Põe-se a escrever. Assim nasce o poema “Canção do exílio”, em 1843, nas dependências da Universidade, e, publicada em 1857 no livro “Primeiros cantos”.
Com uma musicalidade impecável a partir da métrica e rimas, ele cala a crítica portuguesa com uma poesia que expressa a saudade e nostalgia à terra natal. “Canção do exílio” não possui nenhum adjetivo. No entanto, é o poema que mais exalta as qualidades do Brasil. Em 1843, a independência brasileira ainda era algo recente na história dos dois países. Rixas e desconfianças ainda pairavam nas relações pessoais. A crítica literária portuguesa é uma cutucada que não ficou sem resposta.
Quando o poeta fala do Brasil, usa o musical fonema “lá”. Quando fala de Portugal, usa o “cá”. Menos musical e fonema fechado. Brasil é “lá”. Portugal é “cá”. A ironia do poeta está no próprio título. Ele não está exilado. Mas, longe de sua querida terra natal, sente-se no exílio. Para ele, o canto dos pássaros em Portugal não estava no mesmo patamar dos pássaros do Brasil, no caso, o sabiá.
“Canção do exílio” tornou-se símbolo do nacionalismo brasileiro. Em 1922, ano do primeiro centenário da independência, quando o Hino Nacional foi oficialmente estabelecido, no governo de Epitácio Pessoa, parte do poema foi citado no mesmo: “…nossos bosques têm mais vida…”.
Composto por cinco estrofes, sendo três quartetos e dois sextetos, é um poema considerado pequeno. Sua grandeza é oriunda da riqueza de seus significados. Sem nenhum adjetivo é o poema que mais qualifica o Brasil.
Hoje, quando ouço o canto do sabiá, não há como não pensar em Antônio Gonçalves Dias, o jovem de apenas 20 anos, que calou a crítica portuguesa, mostrando que no Brasil se faz poesia de qualidade.
É isso!
Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho, Pastor Presbiteriano e Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Compartilhe: