O Horário de Verão ajudaria a amenizar o problema de energia do Brasil?

O Horário de Verão ajudaria a amenizar o problema de energia do Brasil?

29 de agosto de 2021 0 Por Redação Em Notícia
Ultimamente tem havido muitas postagens em mídias sociais de pessoas criticando o fim do Horário de Verão como sendo a resultante da crise energética no Brasil. Mas, seria esse o fato que tem gerado todo esse problema, mesmo? Lamento dizer, mas isso soa tão ridículo e de uma preguiça intelectual, que seria o mesmo que afirmar que se usarmos o sanitário e tomarmos banho dia sim, dia não, estaremos ajudando a recuperar o volume de nossas represas.  Não há, pois, qualquer lógica e nem mesmo um pensamento crítico para se encontrar a raiz desse problema que tem nos visitado com certa frequência.
O problema que está nos levando à crise hídrica é antigo no Brasil.  Também podemos dizer que essa é uma responsabilidade compartilhada entre o povo, os governantes e os habitantes de todo o Planeta Terra, pois quando se fala de Meio Ambiente, o mundo todo é parte da mesma aldeia, logo comungam da mesma responsabilidade.  A derrubada de nossas matas e sua consequente queimada, reflete no derretimento do gelo do Ártico do mesmo modo que esse derretimento nos expõem a vírus desconhecidos, aumento do nível dos oceanos, mudança das correntes marítimas, dentre outros efeitos diretamente relacionados.
Todavia, vamos ingressar em alguns pontos importantes e diretamente relacionados ao Brasil agora.

– NOSSA MATRIZ ENERGÉTICA É ESSENCIALMENTE HÍDRICA

Isso quer dizer que, aproximadamente 64,9% de toda a energia gerada no Brasil vem exclusivamente de Usinas Hidrelétricas. E isso vem desde muito tempo, sem que houvesse planejamento e investimento na diversificação de nossa matriz.  E para piorar, temos algumas usinas erroneamente construídas como Jirau e Belo Monte, que além de serem ineficientes, de não terem condição de operar em plena carga, só agrediram o Meio Ambiente.
A segunda maior participação na matriz é gás natural (9,3%), e então temos eólica (8,6%), biomassa (8,4%), carvão e derivados (3,3%), nuclear (2,5%), derivados do petróleo (2,0%), solar (1,0%).

Fonte: vetorlog.com

Em se falando de biomassa, por exemplo, essa é uma geração de energia feita a partir da queima do bagaço de cana-de-açúcar, após a extração do caldo para a fabricação de etanol (outro combustível não poluente e que poderia abastecer os veículos brasileiros em substituição à gasolina e ao diesel).  Por tudo o que há de oportunidades, o Brasil é o País mais privilegiado do Mundo! Como dizem alguns engenheiros especialistas em energia, aqui até o vento sopra certo! Mas, por quê é que estamos tendo tanto problema?
Conforme podemos observar acima, o nosso maior problema se chama: “ESCOLHAS PÚBLICAS”. Por muitas décadas, os governos do Brasil optaram basicamente por Hidrelétricas e Térmicas (Termelétricas a carvão, diesel e gás); ignorando nossa faixa gigantesca de litoral, o infindável potencial energético do semiárido nordestino, e os nossos planaltos. Nem precisaríamos falar de energia eletronuclear, embora seja estratégica e desejável que se tenham mais plantas nucleares para o contínuo desenvolvimento da tecnologia.

– A ENERGIA DO LITORAL

Quem se lembra das aulas de geografia básica do 1º grau, sabe que o vento tem dois movimentos:
a) Durante o Dia – sopra do mar para a terra (zona ciclonal)
b) Durante a Noite – sopra da terra para o mar (zona anticiclonal)
O vento sopra 24h por dia!  E as turbinas eólicas têm a capacidade técnica de se aproveitar o vento, qualquer que seja o seu sentido.  Dessa forma, nunca é perdido o seu potencial energético que movimenta as turbinas.

Parque eólico no mar holandês (Fazendas de Vento).

Um ótimo exemplo de um País que pensa em soluções sustentáveis e de alto ganho energético é o Reino dos Países Baixos (Holanda), que tem um imenso parque eólico dentro do mar para aproveitar o vento para a geração elétrica. Chamadas de Fazendas de Vento, atualmente há um total de 2.200 turbinas eólicas em todo o país, que podem gerar 2,6 terawatts/hora (TWh) energia suficiente para sustentar o equivalente a 2,4 milhões de casas por 1 ano, cerca de 30% das residências holandesas são abastecidas por energia eólica.
Você já teve curiosidade de ver o tamanho do litoral da Holanda?

Fonte: Mapa extraído do Wikipedia

Agora imagine se tivéssemos turbinas eólicas instaladas em toda nossa faixa litorânea e em nossos planaltos. Provavelmente, poderíamos desligar muitas usinas hidrelétricas e as termelétricas nem seriam ligadas.  Nossa água poderia ser represada substancialmente para consumo humano e agricultura, em vez de ser despejada para a geração de energia.
Além disso, há a possibilidade de se promover a geração de energia através da agitação de onda marinha (como é feito pela UFRJ na Ilha do Fundão).

– A ENERGIA DO SEMIÁRIDO NORDESTINO

Lamentavelmente, aqui temos um exemplo de preguiça dos governadores do Nordeste Brasileiro, que acham que só podem gerar receita para seus Estados através do Turismo, ignorando que a commodity mais valorizada do mundo é a ENERGIA ELÉTRICA VERDE.  Além de gerar receitas, também gerariam tecnologia, empregos altamente qualificados e teriam condições para o desenvolvimento industrial de suas regiões.
Uma grande extensão do território do nordeste, onde não há incidência de chuvas, ocasionada pela barreira natural desempenhada pela Serra do Barravento que impede que as massas de ar frio e umidade cheguem do litoral para o agreste, tem um índice de incidência solar de 99,9% durante todo o ano.  Logo, um potencial econômico e laboral grandioso poderia ser realizado no Nordeste brasileiro, atraindo forte desenvolvimento àquela região.

Usina Solar – fonte: Revista Exame

Agora, imaginando o aproveitamento desse potencial solar com a instalação de Usinas Solares. Seriam, os Estados Nordestinos, os maiores exportadores de energia elétrica para todo o Brasil. Gerariam riquezas próprias, diminuindo a dependência do Fundo Federativo (em que eles pouco contribuem e mais se utilizam) e teriam uma receita contínua e altamente valiosa.

– E A ENERGIA DO LIXO?

Exatamente isso! Já pensou quanto lixo o brasileiro gera por ano? Em um ano, nós geramos cerca de 240.000 TONELADAS DE LIXO. E todo esse lixo, quando não vai para os aterros sanitários (verdadeiros crimes ecológicos), vão parar nos nossos rios, lagoas e mar, destruindo manguezais.
Contudo, se houvesse incentivo para a transformação dos aterros e lixões em usinas de geração de energia a partir do lixo, um importante contribuidor se criaria. Ao mesmo tempo que resolveria o problema do lixo para o meio ambiente, abasteceria o País com energia verde e barata!

– A ENERGIA ELETRONUCLEAR

Usina Eletronuclear de Angra dos Reis – fonte: IstoÉ

O Brasil é um dos Países que detém as maiores minas de urânio do mundo! Além disso, nós temos a tecnologia mais moderna e segura para a fabricação de centrífugas de enriquecimento de urânio, necessárias para a geração de energia elétrica de base atômica e também uma das tecnologias mais seguras para reatores nucleares.

Por que não se investir na construção de mais usinas eletronucleares?
Como pudemos observar, há muitas soluções para a escolha dos nossos governantes para resolverem em definitivo o problema energético no Brasil.  E isso não precisa ficar a cargo exclusivo do Governo Federal ou dos Governos Estaduais.  Basta que eles criem os marcos legais e abra-se para a iniciativa privada, e ofereçam a segurança política e econômica para que se atraiam investimentos para o País.

Mas onde entra a “Responsabilidade Global” nisso tudo?

Está mais do que comprovado que vivemos um aquecimento global que está desregulando todo o clima. Tem gente mais nova, nascida após 1980, que só conheceu esse clima de eterno verão no Brasil, mas não foi assim sempre. Quem nasceu antes da década de 1980, certamente lembra-se de todas as estações, que vivíamos. Os ventos do outono, o frio do inverno que era rigoroso em muitas vezes, o frescor da primavera e então o tórrido verão. De fato sentíamos as 4 estações, não era essa zona monoclimática que temos desde 1990 pra cá.
A consequência direta da alteração climática que podemos sentir, está na ausência do sistema de chuvas, que na América do Sul costumamos ouvir/ler o nome “El Niño” para explicar o estacionamento de uma massa de ar quente que impede a entrada de umidade e frio do Oceano Pacífico e da Antártida para o Continente. Tudo isso faz com que nossos rios fiquem mais baixos, e consequentemente impeça-se a irrigação – que é importantíssima para a agricultura comercial – e o resultado subsequente está na diminuição da produção de alimentos (dentre outros fatores).
Esse aquecimento global, segundo o Painel Climático da ONU, está intimamente ligado ao uso de tecnologia poluidora pela sociedade e indústria (carros, caminhões, navios e trens a diesel), além do desmatamento crescente.
Contudo, a força de mudança climática tem acontecido muito mais rapidamente desde a primeira década do terceiro milênio.
Lembremo-nos que tivemos uma crise hídrica séria em 2001, uma ameaça de crise energética entre 2014 e 2016, e voltamos novamente ao patamar de crise energética agora. Em 2014 esse problema poderia ter sido resolvido, se a então Presidente da República Dilma Vana Rousseff tivesse feito a lição de casa. Naquele momento era a hora exata para se fazer as escolhas públicas viáveis e investir-se em geração de energia verde renovável (leia-se: eólica e solar, que são infinitamente mais baratas que hidrelétrias, termelétricas e nuclear). Contudo, as soluções que aquele governo tomou foram:
1) Criação das bandeiras tarifárias (que transfere o ônus da falta de investimento e compensação pela compra de energia das termelétricas para o consumidor);
2) Contratou por 25 anos a geração de energia elétrica das usinas térmicas a diesel e gás (altamente poluentes e caras);
3) Encerrou o programa de instalação de painéis solares(duas empresas alemãs chegaram a se instalar no Brasil para produzir aqui os painéis fotovoltaicos e depois de 2 anos sem verem qualquer compromisso do governo foram embora para nunca mais voltarem);
4) Não interligou a energia dos geradores eólicos no Sistema de Distribuição Nacional.
Dessa forma, com uma leve pincelada e sem adentrar com profundidade ao tema, podemos ver que as raízes para o problema que vivemos hoje são muito profundas e EM NADA TEM A VER COM O HORÁRIO DE VERÃO. Inclusive porque o famigerado e malfadado Horário de Verão, durante todo o seu período de aplicação, gerou uma “economia de energia” da ordem de 2.185 megawatts em 2017, que daria para abastecer aproximadamente 1.500 residências com energia por 1 ano.
Para fins de entendimento, o Brasil consome cerca de 207.000 megawatts por ano. Isso quer dizer que em 2017, o Horário de Verão economizou 1,0555% do que o País consome em 1 ano. Lembrando que são 120 dias que nos forçam a adaptar toda a rotina de vida para que esse percentual ridículo seja economizado.
Portanto, e para concluir, eu deixo a você leitora uma reflexão: “De fato você acha que o Horário de Verão faz alguma diferença?” 
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