Quais vazios você tem?

Quais vazios você tem?

29 de janeiro de 2022 0 Por

Após grande repercussão de um dos meus textos, um dos leitores escreveu nos comentários: “E quais são os vazios desta escritora?”. Não tive certeza se havia ironia ou cinismo na pergunta, mas de qualquer maneira, senti um enorme e prazeroso desejo em responder.

Percebo que minhas matérias quando falam de amor ou de comportamento, tendem a ter um número maior de acessos e comentários. Todos nos conectamos mais com assuntos emocionais e psicológicos.

Sobre a pergunta de meu leitor, afirmo que muitos são os meus vazios. Não de caráter ou de personalidade, mas das dores que fui acumulando no decorrer de minha vida. Sinto os vazios dos sonhos que ainda não realizei e dos erros do passado, que hora ou outra me consomem a alma com culpa ou remorso. Sinto os vazios da falta de amor, às vezes de amizade, o vazio da solidão, da saudade, da falta de esperança, dos momentos de cansaço e da vontade de desistir, seja do que for.

Tenho minhas dores de criança, dos momentos que não foram bons e tantos outros que vieram depois. Apesar de hoje entender muito melhor tudo o que foi a minha vida, mesmo a melhor das compreensões não faz cessar definitivamente aquilo que machuca. A maturidade ameniza, mas não cessa as incertezas da vida. Existem dias de solidão, de tristeza, de saudade, cansaço e até mesmo de revolta. E nesses momentos os vazios me falam a alma.

Gosto de escrever sobre o amor, mas isso não significa que eu viva ou tenha vivido o melhor dos amores. Acredito que justamente a falta dele é o que me faz enxergar melhor como ele deveria ser.

Escrevo sobre a dificuldade de relacionamento entre pais e filhos, e isto também não ocorre pelo fato de eu ter a melhor das relações com meus pais ou com meu filho. Creio que ocorre justamente por conhecer essas dificuldades muito bem.

Quando escrevo sobre um comportamento, certamente escrevo sobre mim mesma, em algum lugar do passado ou até mesmo do presente.

Sou uma pessoa em constante construção de mim mesma. Curo uma dor aqui e logo surge outra ali. Finalmente aprendo como lidar com um sentimento difícil e em seguida um novo e estranho sentimento chega.

Na minha vida nada foi fácil. E nada veio de graça. Para tudo que sou hoje, existe uma história por trás, sendo muitas de dor. O ser escritora, sim, possui um forte significado, pois quando escrevo, coloco em palavras o estado de minha alma, com toda transparência que existe em mim. Escancaro quem eu sou e o que sinto desde sempre, e pago um alto preço por tal autenticidade.

Falo sobre vazios, porque sim, também possuo os meus.

Assim como qualquer um sofro, choro, rio, amo e tenho meus dias ruins. Meus vazios são como o de qualquer pessoa: estão sempre ali. Às vezes se vão, depois voltam.  Alguns vão embora e não voltam mais. E novos surgem.

Nossos vazios poderiam até ter outro nome, pois não são tão vazios assim. São as histórias mal contadas ou escondidas, as dores e lágrimas contidas. Dores que vêm e vão, momentos que despertam uma velha dor e instantes que geram um novo sofrer.

Os vazios fazem parte da vida e sempre irão fazer. Não há nunca quem se cure por completo. Mas por instantes.

O viver de verdade é uma eterna busca pelo equilíbrio entre o vazio de sofrer e a plenitude de ser feliz.

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