Por que continuamos?

Por que continuamos?

21 de fevereiro de 2022 0 Por

Após uma fase em que me peguei reclamando muitas vezes de cansaço, falta de tempo e desânimo, adoeci gravemente por quase três semanas e tive tempo de sobra para refletir sobre qualquer coisa que fosse. Claro que me entristeci, mas uma coisa era clara: a doença era resultado de um momento de depressão. E não o contrário.

Por mais que eu tentasse enxergar motivações, externas ou em mim mesma, parece que tudo que eu via era a falta: a falta de amor, a falta de dinheiro, a falta de tempo, a falta de amigos e a falta de perspectiva. Além de uma crise no país que era assunto em qualquer jornal, sites e no dia-a-dia de maneira geral. Todos temendo um futuro incerto.

Então tudo parecia estar perdido. Não faltava mais nem mesmo perder a saúde. Confesso que senti medo. Porém, uma semana após a minha recuperação, tudo simplesmente mudou. Meu trabalho ficou mais motivador, alguns amigos ficaram mais próximos e em todas as pequenas coisas do meu dia-a-dia eu comecei a encontrar razões para me alegrar.

Mas na verdade nada mudou de verdade. Tudo continuava igual e no mesmo lugar. E mesmo de volta a uma vida corrida, voltei a refletir sobre minha melhora que não era apenas física, mas emocional. Se nada tinha mudado, por que raios eu estava me sentindo tão radiante? E não que fosse ruim, mas saber a resposta era ter a chave para futuras crises de desânimo.

Conclui que nosso velho instinto de sobrevivência me mudou por dentro. Mexeu alguns pauzinhos, ajustou alguns parafusos e “voilà” (Aí está): ressurge uma nova pessoa, numa mesma vida, mas simplesmente com novas sensações.

Na minha nova semana, fiz coisas novas, busquei conhecer pessoas e rever outras que valiam a pena. Enviei mensagens para quem antes eu nem respondia direito. Fiz ligações! E me dei conta de que nunca fazia isto.

Estava cansada do meu mundo e da minha rotina. E quando retornei, estava milagrosamente renovada de uma fase que havia sido ainda pior: a doença.

Passamos a vida reclamando daquilo que nos incomoda, nem que seja o molho da salada que nos desagrada o paladar e nos apegamos àquilo como se fosse um problema sem fim.

Está certo que problemas graves cruzam nosso caminhos. Diante da morte, da doença, da carência material e afetiva, por vezes desejamos o fim. Nos imaginamos em outro mundo, numa vida diferente. E quando abrimos os olhos não nos conformamos com a vida que temos.

Entendi que por pior que seja uma situação, sempre chega um momento em que tudo começa a se reverter. De dentro, a esperança e perspectiva de algo melhor que está para chegar toma conta de nós mesmos de uma forma discreta, vai aumentando a cada dia e nos trás de volta o prazer de viver.

Somos todos pequenos, frágeis e carentes. Nem mesmo sabemos de onde viemos e para onde vamos. E ainda assim vivemos a vida como se nela nunca houvesse um fim.

Apesar de toda a minha reflexão na busca pelo que me curou a doença da alma, para ter o remédio sempre à mão, entendi que a alma tem seu próprio ritmo e sua própria vontade.

E continuamos sim. Humanos com instinto de sobrevivência que se manifesta pelo milagre da esperança. Mesmo quando tudo continua igual. Mas passa a ser sentido de forma diferente.

A vida continua!

E nós simplesmente seguimos com ela!

Carolina Vila Nova

Compartilhe: