Estudo sugere alterações estruturais no cérebro associadas a longas jornadas de trabalho

Estudo sugere alterações estruturais no cérebro associadas a longas jornadas de trabalho

15 de maio de 2025 0 Por Redação Em Notícia

Pesquisa com profissionais de saúde na Coreia do Sul identifica mudanças significativas no volume de regiões cerebrais ligadas à função executiva e regulação emocional em indivíduos com sobrecarga de trabalho

Uma nova pesquisa publicada nesta terça-feira (13) levanta a hipótese de que jornadas de trabalho extensas podem induzir alterações na estrutura cerebral. O estudo, conduzido por cientistas das universidades Chung-Ang e Yonsei, na Coreia do Sul, detectou “mudanças significativas” nos cérebros de profissionais de saúde que apresentavam sobrecarga de trabalho, definida como uma combinação de exaustão física e emocional associada à falta de descanso adequado.

A pesquisa acompanhou 110 profissionais de saúde, divididos em grupos “sobrecarregados” (trabalhando 52 horas ou mais por semana, limite legal máximo na Coreia do Sul) e “não sobrecarregados”. O grupo com excesso de trabalho, composto por 32 indivíduos, apresentava, em média, idade inferior, menor tempo de emprego e maior nível de escolaridade em comparação com o grupo que cumpria jornadas regulares.

Através da comparação de dados de um estudo distinto e exames de ressonância magnética, os pesquisadores aplicaram uma técnica de neuroimagem para analisar o volume cerebral dos participantes. Essa técnica permitiu identificar e comparar diferenças nos níveis de matéria cinzenta em diversas regiões cerebrais, enquanto a análise baseada em atlas possibilitou a identificação e rotulação de estruturas nos exames.

“Indivíduos que trabalhavam 52 ou mais horas por semana demonstraram alterações significativas em regiões cerebrais relacionadas à função executiva e à regulação emocional, em contraste com os participantes que mantinham jornadas de trabalho normais”, afirmaram os pesquisadores em comunicado.

As áreas cerebrais que exibiram um aumento no volume incluem o giro frontal médio, com papel relevante em funções cognitivas, atenção, memória e processos linguísticos, bem como a ínsula, envolvida no processamento emocional, autoconsciência e compreensão do contexto social.

Os pesquisadores interpretam suas descobertas como sugestivas de uma “relação potencial” entre o aumento da carga de trabalho e modificações nessas áreas do cérebro, fornecendo uma base biológica para os desafios cognitivos e emocionais frequentemente relatados por indivíduos sobrecarregados. Joon Yul Choi, coautor do estudo e professor assistente do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade Yonsei, indicou à CNN que essas alterações podem ser “ao menos parcialmente reversíveis” mediante a mitigação dos fatores de estresse ambientais, embora o retorno ao estado cerebral inicial possa demandar um período consideravelmente mais longo.

Evidências e Perspectivas Futuras:

Pesquisas anteriores já haviam documentado os efeitos adversos de longas jornadas de trabalho na saúde. Um estudo conjunto de 2021 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que o excesso de trabalho contribuiu para mais de 745 mil óbitos em um único ano. Adicionalmente, longas jornadas têm sido associadas a um risco elevado de diabetes em mulheres e ao declínio da capacidade cognitiva.

Embora as consequências comportamentais e psicológicas do excesso de trabalho sejam relativamente bem estabelecidas, os mecanismos neurológicos subjacentes e as alterações anatômicas cerebrais permaneciam menos compreendidos, conforme explicitado no estudo. Frank Pega, que liderou o estudo OMS-OIT de 2021 e não participou da pesquisa atual, considerou essas novas descobertas como “nova evidência importante” que pode auxiliar na compreensão dos impactos do excesso de trabalho na saúde física dos trabalhadores.

Pega ressaltou que a pesquisa corrobora as conclusões do estudo OMS-OIT, indicando que “longas horas de trabalho contribuem para a maior carga de doenças entre todos os fatores de risco ocupacional identificados até o momento”. No entanto, ele ponderou que o tamanho reduzido da amostra e o foco exclusivo em profissionais de saúde na Coreia do Sul limitam a generalização dos resultados, enfatizando a necessidade de estudos adicionais em diferentes populações.

Os pesquisadores do estudo atual reconheceram a natureza exploratória de seu trabalho piloto, mas o consideram um “primeiro passo significativo” para a compreensão da relação entre excesso de trabalho e saúde cerebral. Jonny Gifford, pesquisador principal do Instituto de Estudos de Emprego em Brighton, Inglaterra, que não esteve envolvido na pesquisa, comentou à CNN que o estudo “confirma algumas razões fisiológicas pelas quais trabalhar longas horas afeta nosso bem-estar”. Ele destacou o uso de neuroimagem como fornecedor de “novas evidências poderosas” que ligam o excesso de trabalho a alterações estruturais em áreas cerebrais envolvidas na função executiva e na regulação emocional.

Gifford acrescentou que, apesar de ser um estudo com uma amostra limitada de 110 profissionais de saúde na Coreia, a robustez das medidas neurológicas e o foco em mecanismos fundamentais (excesso de trabalho e fadiga) com potencial para afetar qualquer indivíduo conferem relevância ampla às descobertas centrais. O estudo foi publicado no periódico Occupational and Environmental Medicine.

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