ENTREVISTA ESPECIAL: Reverendo Ailton fala sobre o período de Páscoa
18 de abril de 2025Estamos de volta, agora, para o último bloco e ao meu lado está o reverendo Ailton Gonçalves Dias Filho, que é pastor da Igreja Presbiteriana em Americana e ele está aqui por um motivo muito especial, afinal de contas, amanhã, nós já começamos todo aquele tríduo, a gente pode dizer, da Páscoa, que se celebra a paixão, a morte e a ressurreição. É o pilar basilar da fé cristã, representado por este momento. De acordo com a teologia, Cristo representa o sacrifício realizado pela humanidade para a remissão dos pecados. O período final é representado pelo tríduO pascal com a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, confirmando a profecia da vinda do Messias, que tira os pecados do mundo e volta a unir o homem a Deus. O tríduo pascal manifesta essa caminhada de Cristo, que passa pela ceia, instituindo o mandamento novo do amor a Deus, o amor ao próximo, instituindo o sacerdócio, instituindo também a Eucaristia e depois passando pela cruz, aonde vai ser justamente a expressão do seu amor, a sua entrega total para que a humanidade possa ser redimida. Então, para compreendermos melhor este período, vamos conversar com o pastor Ailton. Seja muito bem-vindo, pastor.
REV. AILTON: Muito obrigado novamente por ter pedido esse nosso pedido de compartilhar conosco o conhecimento deste período que é especial, a simbologia da Páscoa cristã. Obrigado a você pela oportunidade de estar aqui num momento, numa data tão especial, tão cara, tão preciosa para todos os cristãos, seja ele católico, reformado ou ortodoxo. Então, obrigado pelo espaço, porque é a oportunidade que a gente tem de falar, de celebrar, de falar daquilo que a gente está fazendo. E desse momento especial, eu falo do momento fundante da redenção de nossas vidas, quando o Senhor Jesus Cristo morre voluntariamente na cruz do Calvário. E esse período da Páscoa, reverendo, nós conversamos no início da claresma. Esse período pascal, pode-se dizer que ele começou lá atrás, justamente no primeiro dia da claresma. Isso, há 40 dias atrás, e ele se encerrou. Ele encerrou no domingo passado, no domingo de Ramos, quando os cristãos relembraram a entrada de Jesus em Jerusalém para viver aquela que seria a sua última semana. Então, a claresma, ela se encerra no domingo de Ramos. E aí começa a semana, a Semana Santa, a semana em que nós relembramos os últimos dias, os últimos passos, as últimas conversas de Jesus Cristo antes da sua morte na cruz do Calvário. Então, hoje, por exemplo, na quinta-feira, boa parte das igrejas cristãs sérias do país estão abertas hoje com alguma celebração, relembrando exatamente a Eucaristia, que foi a última refeição que o Senhor Jesus comeu com os discípulos, pão e vinho. E onde ele parte o pão, dizendo, olha, isso é o meu corpo, que é dado por vocês, façam isso em memória de mim. Depois, toma o cálice, dizendo, este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramada em favor de muitos para remissão de pecados. Façam isso em memória de mim. Essa foi a última refeição. E João registra que foi um momento tão precioso que o Senhor Jesus começa a lavar os pés dos discípulos. Então, em muitas igrejas, acontece a cerimônia de lava-pés, num cerimonial muito bonito, relembrando aquele que era mestre-senhor, mas que se curva para lavar os pés dos seus discípulos, lavando o pé, inclusive, de Judas e de Pedro, que iria negá-lo. Então, o Nosso Senhor Jesus Cristo é senhor absoluto, é soberano, mas é um soberano que serve, que se ajoelha, que se curva para servir o seu próximo. Aí, depois dessa refeição, ele é traído por Judas, entregue nas mãos, aí começa todo o seu processo, e muito rápido, com testemunhas falsas ali, um processo completamente ilegal, fora dos trâmites normais, ele é sentenciado às pressas e morre na cruz do calvário. Sentenciado a uma morte violentíssima. Violentíssima, violentíssima. Quando nós lemos evangelhos hoje, depois de 20 séculos, 21 séculos, às vezes nós temos a tendência de romantizar a leitura, mas nós não temos ideia do sofrimento de Jesus Cristo, da crucificação. Quando o Mel Gibson colocou nas telas o filme A Paixão de Cristo, em que ele, usando o texto de Isaías 53, o servo sofredor, o povo saía calado do cinema. Lógico, era ficção, era uma ficção que passava 10% do sofrimento do Senhor Jesus Cristo. Como diz Isaías, homem de dores e que sabe o que é o sofrimento. Mas o bonito de tudo isso, Danilo, é que a sexta-feira não dá a última palavra. A sexta-feira, que a gente vai celebrar amanhã, não é o final do capítulo. Então, essa é a grande esperança cristã. A sexta-feira, a morte não triunfa, a morte não dá a última palavra.
DANILO BUENO: Que é também chamado do mistério da fé.

REV. AILTON: Exatamente. Exatamente. Aí vem, então, depois da entrega, na cruz do Calvário, vem a ressurreição, que nos enche de esperança. Então, nós estamos numa data muito especial. Não é à toa que a igreja, muito sabiamente, estabeleceu a quaresma, que é um tempo de preparação, 40 dias antes, de preparação para este momento, que talvez seja o momento mais importante da fé cristã. No Natal, nós celebramos a encarnação do Verbo, Deus que se fez carne, que se fez homem. Agora, na Páscoa, nós celebramos o cumprimento daquela missão. Ele nasceu com um propósito, e na Páscoa, então, é o propósito sendo estabelecido, sendo cumprido plenamente. Quando Ele pronuncia, na cruz, a palavra lá, tetelestai, em grego, quer dizer, está consumado. Está consumado. Eu recebi uma missão e eu cumpri. Missão cumprida. Tetelestai. Está consumado. Está pago a dívida. E agora, eu e você, e todos aqueles que nos assistem em suas casas, nós podemos ser declarados justos diante de Deus, não porque somos justos, mas é a justiça alcançada na cruz, mié, nos é imputada. Então, você e eu, e todos aqueles que estamos ouvindo hoje, nós somos declarados justos diante de Deus, por causa da justiça de Jesus Cristo. A morte de Jesus Cristo, está dizendo a Hilton, Danilo, você não tem nenhum débito com Deus. Seus débitos foram pagos. Mas eu tinha um débito. Um débito impagado, que Jesus pagou ele na cruz. Eu não tenho mais débito. Mas eu também não tenho nenhum crédito com Deus. O crédito é todo dele. É todo da cruz. Ele que derramou o sangue dele. Então, nós estamos celebrando algo que às vezes não temos nem ideia. De um Deus apaixonado pelo ser humano que desce da sua glória, se faz homem, se humilha, se humilha, mas foi o caminho que ele escolheu para nos redimir. Eu sempre falo que lá atrás, lá nos primórdios da humanidade, nós somos contaminados com um vírus mais letal do que o Covid-19. E este vírus infectou toda a raça humana, todo ser humano. Eu falo que Jesus Cristo é a vacina. Ele me dá condições de sobreviver a esse vírus. Que me distancia do Criador. Jesus nos religa. Daí vem a palavra religião. Ele nos religa com o Criador. Nos conecta com o Criador. Então, nós estamos por celebrar uma data muito especial. Morte e ressurreição de Jesus Cristo.
DANILO BUENO: É a celebração da vida sobre a morte.
REV. AILTON: Exatamente. Eu sei que eu vou morrer. Mas eu não vou ficar sobre o poder da morte. Porque Jesus Cristo ressuscitou. A minha esperança é viva. A esperança do cristão não morre. Exatamente por causa de Cristo. Não é por minha causa. É por causa de Cristo. O mérito é dele. Eu falei, eu não tenho nenhum débito com Deus. Mas eu também não tenho nenhum crédito com Deus. O crédito é todo dele. É todo da cruz. É todo da morte. É do sacrifício que ele fez por mim. E o renascer que fala não é o renascer em carne.
DANILO BUENO: É o renascer espiritual.
REV. AILTON: É a vida eterna. É o presente que ele trouxe para a humanidade. O projeto de Deus para as nossas vidas sempre foi de vida. Vida abundante, de qualidade. A ideia que eu tenho de céu é uma vida de qualidade. Uma vida plena, sem nenhuma injustiça, sem nenhuma intempérie do tempo sobre o nosso corpo. Vida de qualidade. Ele falou, eu vim para que tenha vida de mudança, vida de qualidade. Então, ele supera um dos nossos maiores inimigos, que é a morte. Jesus morre, se entrega voluntariamente, poderia ter descido da cruz, mas não desceu. É embora ao lado dele morria um ladrão que dizia, escuta, você salvou os outros, salva você mesmo e a nós também. Desce da cruz. Mas ele não desce. Ele sente o peso daquela hora, momentos antes da Eucaristia. Ele está no Getsemane e ele começa a suar sangue e vai orar, pai, se possível afasta de mim este cálice, contudo seja feita a tua vontade, não a minha. É o homem Jesus, é toda a sua humanidade ali e o peso da sua missão pesando. Ele sente a hora das trevas. Ele sente o momento da… o peso da sua missão, o peso da cruz. Ele conhece o destino, ele conhece quem vai entregá-lo, mas ele segue o destino dele. Paulo fala isso, né? Na carta aos Filipenses, tem de envolve o mesmo sentimento que teve também Cristo Jesus, pois ele subsistiu em forma de Deus, não julgou com usurpação o ser igual a Deus. Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Aí ele fala, pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que o nome de Jesus se dobre todos os joelhos dos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor para a glória de Deus Pai.
DANILO BUENO: E hoje nós temos, infelizmente, né pastor, uma outra condição que acaba de um certo modo roubando esse significado, porque infelizmente, a data acabou se tornando uma data comercial.
REV. AILTON: Ah, sim.
DANILO BUENO: O simbolismo todo que ele carrega parece que ficou no segundo plano. Como lidar com isso?
REV. AILTON: Primeiro, obrigado pela pergunta, pela colocação, porque você me dá a oportunidade de dizer que Páscoa não é chocolate. Páscoa é sangue de Cristo. Páscoa não é coelho. Páscoa é cordeiro de Deus, que foi morto. Quando ele vem para o batismo, João fala, eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É cordeiro. Era animal que era sacrificado. Então, nada contra, viu Danilo? Eu gosto de comer chocolate, não vejo problema você comprar um ovo de chocolate, nada contra. Mas as nossas igrejas católicas, reformadas, ortodoxas, que igreja que for, tem que ser um espaço de resistência a esta secularização e a essa comercialização de datas religiosas preciosas demais. Eu sei que o comércio tem que vender. Eu compreendo tudo isso. Mas nós temos que tomar cuidado porque o comércio é como os tentáculos de um polvo que vai se apoderando e vai transfigurando e vai roubando o sentido. Tem muita criança que pensa que Páscoa, que o coelho é o símbolo da Páscoa. Coelho não é símbolo da Páscoa. Coelho não bota ovo. Mas a Páscoa não é chocolate. Páscoa é sangue de Jesus Cristo derramado na Cruz do Calvário. É morte e a ressurreição. Então as igrejas cristãs tem que ser um espaço de resistência para dizer ao mundo, sabe, para dizer, e aqui a TV amplifica a minha fala aqui, não sei, muitos lá estão agora assistindo, para dizer isso. Páscoa é morte e a ressurreição de Jesus Cristo. É Deus estabelecendo uma nova aliança comigo e com você. Não mais baseada numa obediência a um conjunto de normas e de regras, mas baseada numa pessoa, a pessoa santa Augusta do Senhor Jesus Cristo. O verbo encarnado de Deus. Mas obrigado porque a sua pergunta me possibilita corrigir desvirtuamentos que às vezes o Romero faz. E também ao longo do tempo parece que vai se desvirtuando.
DANILO BUENO: Eu lembro, por exemplo, pastor, quando eu era criança, minha família, boa parte da minha família é de tradição católica. Mas inicialmente, a origem familiar, ela é judaica. Mas foram os cristãos novos, os coloques chegaram no Brasil.
REV. AILTON: Lá em Pernambuco, São Luís. Isso. Fugindo da Inquisição de Portugal, vem pra cá. E é interessante que vem pra Pernambuco porque Pernambuco estava sob o domínio holandês, reformado, que havia liberdade religiosa. Então os judeus, que eram perseguidos em Portugal, vêm pra Pernambuco depois com a… porque Maurício de Nassau era governador e havia liberdade religiosa. Então depois eles são expulsos pelos portugueses e aí muitos se convertem ao cristianismo, a conversão de conveniência, trocam de nome, e aí são os cristãos novos. Eu sou assim apaixonado por essa história.
DANILO BUENO: E eu me lembro quando criança, nessa época, por exemplo, minha mãe cobria a imagem de Nossa Senhora que ela tinha em casa, ela acendia uma vela, a gente passava esse período em jejum, apenas rezando, refletindo. Justamente na quinta-feira costumava ter o recebimento ali das confissões que era feito. Então tinha todo um significado. E quando chegava no domingo, então a gente se reunia, comia peixe, quando era possível, um pouco de bacalhau, alguma coisa, mas era algo familiar. Tinha também o ovo de Páscoa, só que ele era como uma sobremesa que chegava, e não como sendo o símbolo maior. O símbolo maior, ele era levado durante toda a semana, com as reflexões, com as orações. O símbolo religioso predominava. Hoje não mais. É um problema geracional.
REV. AILTON: Então, isso ao longo dos anos é resultado dessa secularização, dessa comercialização que vai acontecendo com essas nações religiosas. Por isso que eu falo que as igrejas, as famílias cristãs, de novo, repito, os católicos, os protestantes, os ortodoxos, não importa, da árvore cristã, tem que ser famílias, um espaço de resistência, para não perder de vista a essência. De novo, nada contra o chocolate, que eu gosto e tal, mas não é o essencial. Tem que tomar cuidado. Então, as famílias, as igrejas estão perdendo isso. Hoje, no Brasil, eu falo que quem celebra hoje, a Páscoa, são as igrejas cristãs sérias. Com isso, eu estou dizendo que tem igreja cristã que não é séria, que não respeita, não valoriza essas datas tão preciosas. Estou falando da morte de Jesus Cristo. Certo? Toda Bíblia converge para esse momento. Aponta para Jesus Cristo. Ele morreu, mas ele não ficou sob o poder da morte, ele ressuscitou. E tem igrejas que não celebram isso. Domingo, agora, vai ser um dia normal, não é? Lógico, é um domingo, é um dia normal, do ponto de vista… Mas nós estamos relembrando algo, assim como no ano passado, não foi? Domingo de Ramos. Eu entrei no corpo da minha igreja, segurando um raminho, uma árvore que eu arranquei lá, para lembrar, lembrar o meu Senhor que um dia foi aclamado em Jerusalém, entre ramos de palmeiras e árvores, aclamado como bendito é o rei que vem em nome do Senhor. Então eu posso… Eu tenho essa oportunidade de… Se não fosse a Páscoa, eu não estaria aqui hoje falando com você, não é? Então, obrigado pelo espaço que está me dando aqui. Nós, cristãos, repito, católicos, protestantes, ortodoxos, temos que celebrar e sermos pessoas de resistência a essa secularização, para não perder de vista a essência desse momento.
DANILO BUENO: Exato. Inclusive, algumas cidades, elas celebram também fazendo espetáculos, como aqui em Santa Bárbara, que tem um tradicionalíssimo espetáculo.
REV. AILTOIN: Via Crucis.
DANILO BUENO: Americana teve por muitos anos, era realizado lá com o maior Antônio Zanaga. Hoje, infelizmente, não mais.
REV. AILTON: Você tem em Pernambuco, a Nova Jerusalém, faz isso com muita… O mundo inteiro vem assistir ali.
DANILO BUENO: Atores globais, inclusive.
REV. AILTON: Então, assim, por quê? Porque a data é muito forte. O evento é muito forte. Não é à toa que é feriado o país de hoje, tem gente indo viajar, mas a data é muito forte. Então, esses espetáculos teatrais são fantásticos, porque nos relembram. É uma forma de comunicação também, de resistência, a preservar a essência da data.
DANILO BUENO: Exato. Manter a memória viva.
REV. AILTON: Isso.
DANILO BUENO: Exatamente. E, nesta sexta-feira, que seria o dia da paixão, que é quando ele se reúne para a última ceia ali com os seus discípulos, ele diz uma palavra, para mim, uma expressão que é muito forte. Quando ele fala que este é o corpo dele que será entregue.
REV. AILTON: É. Isto é o meu corpo que dou por vós. Na última refeição que ele está com os discípulos, numa pequena sala, no cenáculo, ele come a última refeição. Esse momento é muito simbólico. É uma força tremenda. Havia ali uma bacia de água. Aquela bacia de água era, se tivesse ali algum criado, algum escravo ali, quem ia lavar o pé das pessoas era esse escravo, o empregado da casa. (20:39) Só que naquele dia não tinha nenhum empregado. Era a pessoa menos importante que fazia esse serviço. O Senhor Jesus é o anfitrião. Ele que mandou preparar aquela páscoa ali. Aquela refeição é uma refeição. Assim como a páscoa dos judeus lá, quando tiram o povo do Egito, era também uma refeição. Comidas frescas, porque ia passar o Anjo da Morte ali. Então, e ali…
DANILO BUENO: E eles, na páscoa judaica, eles comem o pão ásimo, aquele pão azedo.
REV. AILTON: Sem fermento. Para lembrar desse período de passagem.
DANILO BUENO: E provavelmente foi o mesmo que Jesus comeu.
REV. AILTON: Exatamente. Ele era judeu. Mas aí aquela bacia de água lá, e aí eu imagino que os discípulos, quem é que vai lavar os pés aqui? O João, eu não vou. Pedro, eu também não. Porque lavar os pés era uma função do empregado da casa, ou do escravo do lar. E aquela bacia está ali. De repente, o Senhor Jesus pega a toalha, sai do lugar onde ele está e começa a lavar os pés dos discípulos. Lavou o pé de quem? Lavou o pé de Judas. Sabendo o que ele faria na sequência. Lavou os pés de Pedro. Quando chega em Pedro, Pedro fica constrangido. Senhor, o Senhor vai me lavar os pés? Não, o Senhor não vai fazer isso comigo. Pedro, se eu não te lavar, você não tem parte comigo. Então, o Pedro vai de 8 a 80. Então lava tudo. Lava os pés. Não, só os pés. Você já está limpo. Só aquela sujeira do dia a dia que eu vou tirar. Momento muito importante. Judas estava ao lado de Jesus Cristo porque, quando eu perguntei quem é o traidor, ele falou que é aquele que mete o pão e comia, que pegava o pão e molhava o vinho ali. Então, ele estava bem próximo. No local, naquele dia, Judas estava no lugar mais importante, ao lado de Jesus Cristo, ao lado do anfitrião. Então, ele pega o pão e diz, isto é o meu corpo, que é do Senhor vosso. Façam isto em memória de mim.
DANILO BUENO: E, de certo modo, pastor, o Judas, ele não teria sido injustiçado? Porque, se ele não cumprisse aquilo que era o destino dele, que era justamente de entregá-lo, não se cumpriria a profecia.
REV. AILTON: Esse é um dos mistérios de Deus. Eu falo que Deus…
DANILO BUENO: Que depois até ele se arrependeu. Ele se enforcou.
REV. AILTON: Eu falo que ele, carregado de remorso, ele se mata. Ele vê o que ele fez. O que eu fiz? Eu traí a pessoa mais doce deste mundo. Eu traí a pessoa mais terna deste mundo. Eu entreguei ele na mão desses caras. Quando ele vê, acho que ele acompanhou os desdobramentos do julgamento e tal. Eu penso que Judas não tinha ideia, assim como os discípulos, não tinham ideia do que iria acontecer. Embora o Senhor Jesus falava, olha, eu estou indo para o Jerusalém, eu vou ser entregue nas mãos dos homens. E ele avisou. Mas depois ele vai ressuscitar. Mas ninguém compreendia. Então Judas não compreendia. Quando ele viu, disse, gente, o que eu fiz? Aí ele não se aguenta mais e se enforca.
DANILO BUENO: Tem até alguns historiadores que falam que Judas tinha o mesmo ímpeto de Pedro. Que ele era brigão e ele queria a revolução. Queria a revolução pela espada, não pela palavra. E que ele faria aquilo para ver se, de repente, ele teria aquela vontade, ele se manifestaria ou ele ia acabar com todo o exército do imperador.
REV. AILTON: É uma teoria, uma tese interessante. E que ele se arrepende quando vê a mansidão como ele leva. Ele se entrega voluntariamente, ele é cordeiro. Como diz Isaías, perante os seus tosqueadores, não abrindo a boca. Ele não se defende. Quando vindo de Pilatos, ele se entrega.
DANILO BUENO: Mas até Pilatos, ele não vê mal nele, não vê crime.
REV. AILTON: Ele falava… Pilatos queria soltá-lo. Mas aí acaba cedendo à pressão popular. Se você soltar, você é meu amigo de César. Solta barrabás, crucifica, crucifica e tal. Aí vem a expor dele falando, olha, eu sonhei com esse camarada. Não tinha humor com ele, não. Pula fora dessa encrenca e tal. Lava as mãos. Mas ele queria, porque ele percebia que as acusações eram falsas. Era uma manipulação. Mas ele era um cara fraco. E cedeu à pressão popular. Também porque… Aquela coisa, o que está acontecendo ali não é apenas um conjunto de variáveis humanas. Ele tem a ver com a providência de Deus. Tem a ver com algo bem maior. Então, você falou assim, Judas cumpriu o papel dele. Então, tinha que acontecer isso. Eu falo que a crucificação não foi algo de supetão. Não foi algo de afogadilho. A morte de Cristo já estava programada desde a eternidade. Então, acontece… Cristo é alguém que até a sua vida tem um roteiro. Tem um GPS. Tem um roteiro. E ele cumpre cabalmente o seu roteiro. Quando ele fala, pai, se possível, afasta de mim este cálice. Contudo, que se cumpra a tua vontade. A tua vontade é o roteiro. Jesus é alguém que nasce marcado para morrer. Há uma pintura muito famosa de José, uma carpintaria, e Jesus, um menino ainda ajudando ele ali, e aí tem uma luz que vem do sol, da janela, e sobre as costas de Jesus, aquela luz ali formava a sombra de uma cruz. A ideia de que, olha, esse menino aqui, sempre esteve sobre ele a sombra de uma cruz. E quando chega essa hora, ele sente o peso. Mas ele vai até o fim. Está consumado. Em tuas mãos entregam meu Espírito. Então, amanhã, sexta-feira, as igrejas estarão abertas para celebrar. Há vários cultos acontecendo, missas, relembrando esses últimos momentos de Jesus na cruz.
DANILO BUENO: Que é o significado todo desse momento que nós passamos. É o pilar da fé.
REV. AILTON: Exatamente. Obrigado pela oportunidade que você está me dando aqui, porque os meios de comunicação acabam amplificando a nossa voz, aquilo que está falando. Então, você que nos acompanha em casa, pela internet, celebre. Celebre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, porque a morte e a ressurreição de Jesus Cristo é a nossa redenção, é a minha redenção. A garantia também da nossa ressurreição futura.






