Desvendando tabus sobre dentes do juízo
7 de junho de 2021É só falar de dentes do siso em qualquer conversa que logo surgem muitas dúvidas e opiniões. Tem quem extraiu, quem segue com eles intactos e até aqueles que nunca ‘tiveram’. O tal dente do juízo é cercado de questões e cada pessoa tem uma experiência para contar, mas o que se sabe sobre ele não é nenhum mistério e sim ciência.
Quem desvenda as histórias mais comuns sobre os terceiros molares, como são tecnicamente chamados esses dentes, é o cirurgião-dentista e professor Cássio Edvard Sverzut, integrante da Câmara Técnica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).
Quando o dente do siso deve ‘nascer’?
Geralmente, a erupção desses dentes acontece entre os 17 e 25 anos de idade, mas também pode ser depois disso. “Acredita-se que o nome dente do juízo ou do siso é devido ao fato de que, na maioria das pessoas, ele tende a erupcionar nessa faixa etária, quando estaríamos adquirindo juízo ou amadurecimento”, explica o especialista.
O próprio termo siso já remete a isso, pois, na Língua Portuguesa, significa boa capacidade de avaliação e bom senso.
Por que tem gente que não tem dente do siso?
Isso acontece porque os dentes do siso tendem a desaparecer por agenesia, um processo evolutivo devido às mudanças no estilo de vida dos seres humanos. “Não precisamos mais dos terceiros molares, apenas dos primeiros e segundos molares. Com essa evolução, nossas arcadas dentárias diminuíram de tamanho ao longo das gerações, não tendo mais espaço para todos os dentes. Alguns estudos recentes observaram que a agenesia de pelo menos um dos dentes do siso aconteceu em 20% a 25% da população em geral”, comenta. E, como os terceiros molares são os últimos dentes permanentes a erupcionar, eles acabam ficando sem espaço. Além da herança genética, que é um outro fator que colabora para a falta de espaço, pois o tamanho da arcada pode ser “herdado” dos progenitores. “Mesmo quando há espaço suficiente, a erupção dos dentes do siso pode variar muito. Ele pode não nascer, como comumente é dito, ou erupcionar parcialmente, e é aí que ocorre parte dos problemas”, completa.
Problemas mais comuns
Cárie, doença periodontal, inflamação por pericoronarite, reabsorção da raiz do segundo molar, tumores, erupção parcial ou não erupção devido à falta de espaço na arcada dentária são alguns dos problemas relacionados aos terceiros molares. Essas condições podem surgir uma vez que o dente é o último da boca, o que dificulta a visualização pelo paciente ou mesmo pelo profissional, levando à higienização inadequada e incidência de cárie maior do que os demais dentes das arcadas. Dependendo da gravidade, é possível que haja a indicação de extração, o que leva a mais um tópico dos temas discutidos sobre os dentes do siso.
Os dentes do siso podem “empurrar” os dentes da frente?
Outra questão muito comentada é de que os dentes do siso ‘empurram’ os demais dentes ao erupcionar. “Muitas pessoas têm os dentes da frente das arcadas (incisivos) fora da posição, o que tecnicamente é chamado de apinhamento dentário anterior, e isto pode ocorrer durante a época de erupção dos dentes do siso. Por este motivo, eles acabaram, já que se creditava a eles esta ocorrência”, argumenta. Mas, estudos atuais mostram que pessoas que nasceram sem os dentes do siso ou removeram eles antes do período de erupção também tiveram esse problema. “Portanto, se os dentes do siso participam desse processo em algum momento, essa participação não é relevante quando comparada aos outros fatores”, completa. O que não mais justifica a indicação da remoção dos dentes do siso para se evitar o apinhamento dentário anterior.
Extrair ou não extrair: eis a questão
A remoção do dente do siso, assim como de qualquer outro dente, depende da avaliação e indicação profissional. Entre os exemplos indicativos, como os problemas citados, o cirurgião-dentista fala sobre a cárie. “Um dente do siso que esteja com pequena cárie é menos difícil de ser removido quando comparado ao mesmo dente com cárie extensa ou com infecção grave. Por isso é importante que, ao ter indicação, a remoção seja realizada. Caso contrário, o procedimento terá que ser feito no futuro e, possivelmente, em piores condições”.
Se a extração é impedida por medo, existem alternativas, como a sedação consciente ou por anestesia geral, para solucionar problemas bucais e garantir o conforto e segurança do paciente. Já o total de dentes a ser removido depende da situação: se o paciente tiver os quatro dentes do siso com indicação de remoção, a quantidade de extração por sessão dependerá do posicionamento dos dentes e do tipo de anestesia. “Um dente em posição vertical (normal e erupcionado) tem menor dificuldade de remoção quando comparado ao dente em posição horizontal (deitado). Isso deve ser levado em consideração, bem como a quantidade de anestesia permitida para aquele paciente por procedimento cirúrgico, pois há um limite de injeção de anestesia local que não pode ser ultrapassado. Se for utilizada a anestesia geral, é possível remover todos os quatro dentes do siso em uma única sessão, mas, nesse caso, a cirurgia deve ser realizada em hospital”, detalha.
A recuperação pós-cirúrgica, tanto para anestesia local quanto geral, está diretamente relacionada aos fatores locais e sistêmicos de cada paciente. “Um fator local é a cárie e um fator sistêmico é a idade. Por exemplo, pacientes jovens geralmente se recuperam mais rápido e têm um pós-operatório melhor com menos complicações quando comparados a pacientes adultos”, conta.
Além disso, todas as demais condições do paciente precisam ser avaliadas de forma criteriosa. “Em pacientes sem nenhum problema de saúde e com dentes em posição vertical e erupcionados, a extração pode ser feita pelo cirurgião-dentista clínico geral habilitado. Entretanto, para dentes nas demais posições, por exemplo, a horizontal, e para pacientes com problemas sistêmicos, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes, que tenham sofrido infarto ou façam uso de medicações, a recomendação é realizar a remoção com um profissional especializado em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial”, sugere.
Em todos os casos, somente a avaliação e atuação de um profissional da Odontologia levará ao sucesso do procedimento, seja para tratar do dente do siso, monitorar seu impacto na saúde bucal do paciente ou realizar a extração.
Sobre o CRO-SP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com mais de 145 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária. Mais informações: www.crosp.org.br