Desculpe, mas parei de me desculpar…

Desculpe, mas parei de me desculpar…

24 de março de 2022 0 Por

Desde menina, tinha uma percepção aguçada sobre o comportamento. Era uma criança que chamava atenção, e logo cedo, percebi que outras garotas se sentiam chateadas, pelos cumprimentos que recebia. Eu olhava para os adultos, que me paparicavam e esperava que eles proferissem elogios às outras crianças, que estavam ao meu lado. Mas aquela gente grande não se dava conta, do que estava diante do nariz delas: a inveja alheia, ainda que de tamanho inocente.

Com o passar dos anos, entendi que a aparência era como um presente, mas que da mesma forma que abria portas, também fechava. Se a beleza atrai alguns, repele outros. Convive-se com a admiração e a inveja exatamente ao mesmo tempo. Eu nunca tive sequer a beleza de uma miss, mas está claro para mim, que no mundo em que vivemos, até um brinco ou um anel pode ser motivo de incômodo.

Com a maturidade evoluída e aquisição de nível mais elevado de consciência, compreendi que qualquer um tem seus pontos fracos e fortes, e eles não são iguais entre os que convivemos. Inveja para mim, nunca foi um problema, ao contrário da indignação e do falar demais. Porém, o entendimento e compreensão dos próprios pontos, positivos e negativos, é o primeiro e melhor passo para se administrar todo o resto e também entender as reações dos nossos semelhantes.

Para uns, inveja é coisa séria, motivo de dor e sofrimento. Eu respeito. Deve ser difícil ver no outro, com tanta facilidade e naturalidade, algo que sempre se desejou e nunca se obteve. Há de se trabalhar muito, para superar este sentimento. Seja o objeto da inveja o que for, o esforço é interno.

Os objetos de desejo alheio têm um grande leque. Tudo o que temos ou o que somos, ou ainda, fazemos, pode ser motivo de perturbação, para quem nos observa.

Ninguém quer a inveja de ninguém, ou pelo menos os mais sensatos. E na maioria das vezes, a inveja independe das atitudes de quem as sofre.

Mediante outras pessoas, aprendi a não expor a maioria das minhas vivências, a não ser que me perguntem. Não falo das minhas habilidades e disfarço a minha alegria. Se tenho um grande amor, escondo. Uma boa amizade guardo a sete chaves. Uma ideia, me calo. Tudo hoje em dia, parece ser motivo, para que alguém se incomode, ou tente lhe puxar o tapete.

Pessoas já tentaram me diminuir, se utilizando até mesmo das minhas melhores qualidades. Se falo inglês, não é bom o suficiente, porque falo com sotaque alemão, e vice-versa. Se sou escritora, talvez não seja boa o bastante e deva estudar gramática. Há quem tenha dito que meu talento pode expor pessoas ou situações. Para alguns, já fui arrogante, para outros, simples demais. Já se incomodaram quando estive acima do peso, ou mais ainda, quando estive no auge de minha beleza e juventude. Há os que se incomodam com a minha força para o trabalho.

Ando cansada de ser discreta em relação às minhas próprias qualidades, para não incomodar os que se sentem diferentes de mim, seja da maneira que for. Não considero ninguém menor que minha pessoa, mas me cansei dos que se incomodam com o meu tamanho e ainda tentam me provar que sou inferior de alguma maneira e assim reprimir as minhas características.

Escolho agora a liberdade de expor a minha força, energia, beleza, ética, e tudo o mais que eu tiver de bom, sem mais me desculpar, pelos que se sentem mal com isso.

Eu estou longe de ser perfeita. Tenho defeitos, um passado difícil, dores escondidas, as quais me tornaram a força que sou. Nada veio de graça, e eu paguei um preço alto para ser quem eu sou.

Não é fácil viver em sociedade. É cansativo se desculpar por ter qualidades ou características que outros não tem. A vida é assim: diversidade.

Uns são escritores, outros são bons executivos, outros são excelentes cozinheiros, pais, mães, descascadores de batatas. Tudo tem seu valor nesta vida, uma vez que estamos aqui para evoluir, dentro das lições que cada um tem, para aprender e viver em seu caminho.

No que me diz respeito, parei de me desculpar.

Tenho o maior orgulho de quem eu me tornei. Sou uma pessoa e tanto: mãe, filha, irmã, tia, amiga, profissional e mulher. Competente, batalhadora, feliz, bem-sucedida de várias maneiras e acima de tudo, alguém que está de bem consigo mesma. Me sinto jovem, bonita, madura, correta e em constante evolução.

A felicidade não é um estado pleno, mas quase isso. E vai além de olhar nos demais quem eles são, mas no olhar-se para dentro e se amar como se é.

Eu decidi não mais me esconder, em prol dos que se sentem ofendidos ou ameaçados. É um preço caro demais, para um benefício que não é meu e menos ainda reconhecido.

Aprender a conviver com pessoas de tamanhos diferentes faz parte da vida e do crescimento de cada um.

Eu cresci.

E sigo de cabeça erguida. E não de nariz em pé.

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