Alto custo de pesquisa inviabiliza a criação de novos remédios para doenças sem cura
12 de dezembro de 2023Por Aruã Prudenciatti, pesquisador, diretor da Crop Labs, empresa brasileira de pesquisa farmacêutica com sede no ecossistema de Botucatu (SP)
O comprimido que cabe no nosso bolso custou bilhões para ser desenvolvido, e isso afeta a todos nós.
Por trás dessa oferta de opções e disponibilidade, há um investimento monumental em pesquisa e desenvolvimento. Mesmo uma cartela com analgésicos e antitérmicos, que costumamos adquirir para aliviar os sintomas de uma gripe leve ou resfriado, e que custa apenas alguns poucos reais ao consumidor, exigiu recursos substanciais e um longo período de desenvolvimento por parte de institutos de pesquisa e da indústria farmacêutica.
Vamos citar alguns números, para ilustrar essa realidade. Entre as 20 principais empresas biofarmacêuticas do mundo, o custo médio para o desenvolvimento de um medicamento atingiu a cifra de US$2 bilhões em 2022. Isso mesmo: você não leu errado, nem é erro de digitação. São dois bilhões de dólares para pesquisar, testar e colocar um medicamento novo no mercado. Um percurso complexo e criterioso, como deve ser.
O fluxo tradicional de desenvolvimento de um medicamento passa pela bioprospecção de substâncias obtidas da natureza ou sintetizadas a partir dela, a fim de verificar suas potenciais propriedades terapêuticas. Além disso, após a identificação de uma substância promissora, são realizados uma série de rigorosos testes de segurança e eficácia, envolvendo tanto animais quanto seres humanos, a fim de garantir que o produto seja seguro e adequado para uso em larga escala pela população.
Isso representa um desafio significativo para os laboratórios, sejam eles empresas tradicionais ou startups, sobretudo porque o retorno sobre o investimento em novos medicamentos e vacinas diminuiu drasticamente no último ano, atingindo apenas 1,2%. Em termos gerais, isso significa que investir em terapias para doenças ainda sem cura está se tornando menos atrativo do ponto de vista financeiro, o que é motivo de preocupação, uma vez que o alto custo da pesquisa e desenvolvimento de novas terapias, aliado às baixas taxas de sucesso nesse processo (que podem ser inferiores a 12%), afeta a acessibilidade das novas soluções aos pacientes
Em resumo, quanto mais difícil se torna desenvolver uma nova terapia, menos alternativas acessíveis temos disponíveis para os pacientes. Precisamos compreender que o medicamento que cabe no nosso bolso custa bilhões para ser desenvolvido, e isso afeta todos nós.
Apontamos o problema. Então, como superá-lo? Uma das soluções para reduzir o investimento necessário para desenvolver novas terapêuticas reside na inovação nos métodos de pesquisa. A abordagem tradicional, que utiliza animais e voluntários humanos, precisa ser aprimorada. Temos as inovações tecnológicas como aliadas para tal aprimoramento.
Métodos mais eficazes e custos efetivos podem ter um impacto significativo no acesso das descobertas pelo conjunto dos pacientes que demandam essas soluções, e podem ainda transformar o Brasil em um líder nesse setor. Consequentemente, beneficia nossa população como um todo.
Essa mudança na forma como encaramos a pesquisa farmacêutica pode não apenas reduzir os custos, mas também aumentar a eficiência e a velocidade de desenvolvimento de novos medicamentos. A tecnologia pode permitir testes precisos em bancada de laboratório, identificação mais rápida de candidatos a medicamentos e avaliação de sua segurança e eficácia em modelos computacionais antes mesmo de iniciar testes em seres vivos. Isso não apenas economiza tempo e recursos, mas também contribui para reduzir a incerteza associada ao processo de pesquisa.
A inovação tecnológica e a mudança na forma como conduzimos a pesquisa farmacêutica podem abrir portas para um futuro em que medicamentos mais acessíveis e eficazes estejam ao alcance de todos. O investimento em métodos de pesquisa aprimorados não é apenas uma solução viável, mas também uma oportunidade para o Brasil se destacar na vanguarda da pesquisa farmacêutica global