Doenças neurológicas relacionadas ao uso de agrotóxicos aumentam 600% em cidade paraense

Doenças neurológicas relacionadas ao uso de agrotóxicos aumentam 600% em cidade paraense

10 de novembro de 2023 0 Por Redação Em Notícia

Nos últimos 10 anos, os conflitos entre agricultores de soja e camponeses expostos a agrotóxicos se intensificaram na região do Planalto Santareno, levando a um crescimento alarmante de doenças neurológicas causadas pela contaminação desses produtos

A expansão da monocultura de soja resultou na perda de cerca de 25 mil hectares de floresta, de acordo com dados do MapBiomas. Francisco Rodrigues e Márcia Guerreiro, moradores da comunidade Fé em Deus, no km 55 da Rodovia Santarém-Curuá-Una, são apenas dois exemplos de agricultores que convivem há mais de 20 anos com os efeitos nocivos dos agrotóxicos.

A exposição contínua aos agrotóxicos da soja tem causado sérios problemas de saúde para Francisco e Márcia, além de conflitos fundiários na região. Muitos agricultores perderam suas terras para os produtores de soja, que compraram e arrendaram as pequenas propriedades. A contaminação do solo, da água e das plantações tem afetado a saúde dos agricultores e gerado conflitos com os sojicultores, como aponta o Mapa dos Conflitos da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Francisco relata ter passado mal após ser exposto aos agrotóxicos durante a pulverização na plantação de soja. Os sintomas como coceira nos olhos, visão embaçada, rachadura dos lábios e dificuldade respiratória são característicos de intoxicações agudas. Além disso, ele reclama da contaminação dos igarapés da região, que causou uma intensa coceira e desconforto em sua pele. Os sintomas descritos por Francisco estão de acordo com os efeitos dos agrotóxicos na saúde, segundo a bióloga Annelyse Rosenthal Figueiredo, pesquisadora da Universidade Federal do Oeste do Pará.

A pesquisa realizada por Annelyse revelou um aumento significativo de doenças neurológicas na região, com um crescimento de mais de 600% em uma década. Ela destaca que existem estudos que relacionam a intoxicação por agrotóxicos com doenças como Alzheimer, malformações congênitas e leucemias em crianças. No entanto, a subnotificação dos casos no sistema de saúde dificulta uma avaliação precisa do impacto dessas doenças.

Os dados do Ministério da Saúde mostram que há uma falta de registros completos de casos de intoxicação e doenças relacionadas aos agrotóxicos, o que indica uma fragilidade institucional na notificação e no monitoramento desses casos. A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) afirma que executa o programa de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, que capacita profissionais de saúde para a identificação de áreas de risco e sintomas de intoxicação.

Além dos impactos à saúde, os agricultores do Planalto Santareno enfrentam conflitos fundiários. A Associação dos Moradores da Comunidade Jatobá da Volta Grande luta pela posse das terras ocupadas por camponeses desde 2014. A área ocupada faz parte da fazenda Canaã, dedicada ao plantio de soja e milho. A comunidade corre o risco de perder suas terras em um processo judicial de reintegração de posse. A perda dessas terras teria um impacto significativo na produção agrícola da região, além de gerar êxodo rural e pobreza.

A situação vivida pelos agricultores do Planalto Santareno reflete uma realidade preocupante, na qual a expansão do monocultivo de grãos tem levado à degradação do meio ambiente e à deterioração da saúde da população local. É necessário melhorar o monitoramento e a notificação dos casos de intoxicação relacionados aos agrotóxicos, bem como buscar alternativas sustentáveis para a produção agrícola na região. O Estado deve assumir seu papel na proteção das pessoas e no enfrentamento dos impactos causados pelos agrotóxicos.

*Com informações da Agência Pública

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