Esgotadas: por que as mulheres desta geração andam tão cansadas?
31 de janeiro de 2022Mulheres cansadas. Medos e culpas, que a mulher carrega, por não conseguir ser excepcional o tempo todo, podem ser tão intensos que se tornam incapacitantes
Carreira, trabalho, relacionamentos, maternidade e sem esquecer da saúde. A educadora física Carla Regis, de Uberlândia, conta de sua experiência de mais de 16 anos com mulheres que carregam o peso da pressão por produtividade, mesmo diante de períodos incertos em que nem tudo é tão previsível
Dezembro de 2019, preparativos para o fim de ano, projetos em andamento, depois de um intenso ano de trabalho, família já fazendo planos para as festas, aquela gordurinha ali ainda incomodando no culote, mas sem tempo para cuidar dela a tempo do réveillon, o trabalho exigindo aquela atenção extra para fechar com chave de ouro mais um ano. Tensas, cansadas, mas felizes, pois, apesar de algumas insatisfações, tudo estava na mais perfeita ordem, afinal, quem é da geração millennial, que são as nascidas entre o começo dos anos 1980 e o finalzinho dos anos 1990, sabe que esta mulher tem sede por vida e não para.
No início de 2020, o susto, lembrando bem a música de Raul Seixas, “o dia em que a terra parou”, estava acontecendo o inimaginável, um vírus estava parando o mundo por conta de uma pandemia que crescia bem diante dos olhos. Entre lamentos, preocupações e ações, era hora de reinventar, afinal, o mundo não poderia simplesmente parar. Não depois de tantos planos, projetos e conquistas até então.
Iniciou-se então o que muitos chamaram de “a era do on-line”, inovar era preciso, produtividade não poderia parar e, como arrimo de muitos negócios, mulheres se viram às voltas de uma estrutura doméstica improvisada, cuidados com filhos, trabalhando em home-office e ainda, como se fosse um pecado capital, elas simplesmente não poderiam ter tempo vago, este, se existisse, deveria ser preenchido com cursos, treinamentos, dietas e, uma sequência incansável de lives pelas redes sociais.
Seria como surfar a onda do momento, quando muitos viam oportunidade onde a maioria estava enxergando apenas problemas e medos. Mas, a mulher millennium estava ali, pronta para enfrentar mais esta barreira.
Esta pressão por produtividade, que seguiu em 2021, mesmo diante das incertezas trazidas pela pandemia, esconde algo muito perigoso, que acaba aumentando as angústias e contribuindo para o surgimento de distúrbios emocionais severos.
Ignorando o fato de existir uma crise sem precedentes, começou uma exigência que vai desde a dieta perfeita, mãe exemplar, até a tal superprodutividade, algo sem regras exercendo uma pressão gigante sobre como se comportar nesta nova realidade.
Foi observando estes sinais que a educadora física Carla Regis, experiente no trabalho com mulheres, viu que algo estava acontecendo com suas alunas, cuja pressão por “tirar algo positivo da pandemia”, estava na verdade criando sérios abalos emocionais e psicológicos.
Porém, esta pressão não surgiu na pandemia, foi apenas agravada por ela, pois é decorrente de uma estrutura social regida pelo trabalho, onde a mulher tornou-se um pilar fundamental. E não para por aí, a pressão existe não apenas em torno do resultado do trabalho propriamente dito, mas uma busca por propósito, o que leva a um grande desgaste emocional, diz Carla, que para poder entender e ajudar mais suas alunas, buscou especializações em áreas da psicanálise e da psicologia e inclusive da constelação familiar.
Para Carla, os medos e culpas, que a mulher carrega, por não conseguir ser excepcional o tempo todo, podem ser tão intensos que se tornam incapacitantes. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive, classificou as mulheres como o grupo mais vulnerável a questões relacionadas à saúde mental durante a pandemia do coronavírus.
Por isso Carla defende que a atividade física continua sendo uma fonte de força e energia para buscar este equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Como ela mesma diz, “uma mulher que consegue cuidar do seu corpo é capaz de tudo”, porque é dali que ela vai tirar energia, para cuidar da sua saúde mental, já que a atividade física contribui para a produção dos hormônios e neurotransmissores do bem-estar, tornando os exercícios um desejo do próprio organismo para aliviar a indisposição. Um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard descobriu que apenas 15 minutos de caminhada ao dia reduzem os riscos de depressão em 26%.
A atividade física, diferente do exercício físico, é caracterizada por qualquer movimento corporal feito. Os simples ato de sentar, levantar, andar, subir escadas, carregar objetos cabem nessa definição e já fazem diferença para o corpo. Por isso, segundo Carla, quem for adepto dos exercícios físicos regulares, que são planejados para garantir algum efeito em nosso corpo, terá resultados bastante precisos.
Dentre os principais benefícios estão, a redução do estresse, melhora da qualidade do sono, equilíbrio da produção de hormônios, aumento da disposição física, prevenção de doenças física e mentais.
Carla compartilha um plano para começar a se movimentar:
- Reserve alguns minutos do seu dia para este momento;
- Se não puder sair para alguma atividade, faça em casa mesmo, hoje tem muitas opções para te orientar e conduzir on-line;
- Cante, dance, o que importa é o movimento;
- Chame os filhos e o cônjuge, transforme isso num momento de alegria em família;
- 30 minutos e você se sentirá diferente.
CARLA REGIS
CEO e Fundadora do Studio Villa Fitness. É apaixonada por movimento e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva, Saúde Emocional e Comportamental e dona do jargão A VIDA PEDE MOVIMENTO. Coautora do Livro Emagrecimento para o Século XXI. Cursa pós-graduação em psicanálise e biomecânica do exercício. É praticante de Mindfulness e campeã brasileira Bodyfitness. Encontrou na atividade física e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode seguir no Instagram @carlaregislima.
Website: http://www.carlaregis.com.br