Veterinária revela quais os objetos mais estranhos que os pacientes já ingeriram

7 de junho de 2021 0 Por

E, infelizmente, nem sempre as histórias terminaram bem

Não tem jeito, todo mundo que tem ou convive com animais de estimação já levou um susto ao vê-los tentando comer algo improvável. Ou um maior ainda, ao achar que o bicho está estranho ou doente e levá-lo ao médico-veterinário, ao descobrir que o problema é algo que ele não deveria, mas comeu. Quem viu o filme Marley e Eu, ou tem um desses em casa, sabe do que eu falo.

Às vezes é só esperar a natureza fazer a parte dela e o pet expelir aquilo naturalmente pelas fezes ou vômitos. Porém, nem sempre isso ocorre. E, após fazer exames, como ultrassom ou raio-X, uma cirurgia é necessária para resolver a situação.

Sting, que adora comer plásticos, elásticos e fitas.

Eu tenho gatos e um deles, Sting, vira e mexe tenta comer o plástico no qual os sacos de areia (fardo) vêm acondicionados. Fora as fitas, fitilhos e aquele elástico amarelo. Tudo isso, agora, é proibido aqui ou usado com muito cuidado. Tive um gato siamês, Lestat, que me deu um tremendo susto ao comer palha de aço. Ele ficou em observação no veterinário, mas não precisou passar por nenhum procedimento.

Acompanho muitos grupos de pessoas que gostam de animais no Instagram e Facebook, e alguns depoimentos me chamam a atenção. Em um deles, uma moça comentou que a gatinha dela começou a ficar estranha e a passar mal. Ela não fazia ideia do que poderia ter acontecido. Infelizmente, a felina veio a óbito. A tutora, então, descobriu que o que havia feito mal para a gatinha havia sido a tinta que fora usada nas paredes da casa.

“Sim, a tinta e outros produtos usados para a pintura e reforma de casas podem causar intoxicações e, caso o animal não seja diagnosticado e socorrido a tempo, pode levar ao óbito”afirma Bianca Bennati, médica-veterinária na SPet, que fica junto à Cobasi São Bernardo Faria Lima.

Woman painting with paint roller, she is dedicated and determined to finish her work right, dog is curious about what she doing

Ela explica que isso pode ocorrer tanto pela ingestão acidental dos produtos quanto, pelo motivo mais comum, o forte cheiro.

“Por eles, os animais, terem um nariz muito mais ‘potente’ que o nosso, sentem muito mais o cheiro dos produtos e, assim, podem ter intoxicações. Alguns produtos até vêm com a informação para não serem usados perto de pets, ou avisando que o animal precisa ficar longe do ambiente por algumas horas. Por isso a importância de ler antes as instruções de uso, sempre”, enfatiza.

O mesmo vale para dedetização – aliás, ninguém deve ficar no ambiente, nem os humanos – e também na hora de limpar a casa. Mas muitos se perguntam se isso acontece com todos os animais, ou com aqueles mais sensíveis.

“Todos os animais são sensíveis a cheiros fortes, alguns podem apresentar alergias, mas isso varia de animal para animal. Entre os produtos de uso geral para limpeza, a cândida e o desinfetante são os mais perigosos. Eles podem causar queimaduras se ingeridos ou por contato. Mas deve-se ter cuidado com todos: álcool, cera de polir chão, lustrar móveis, removedores de uso geral etc”, aconselha Bianca.

Ela enfatiza que todo produto de limpeza, se ingerido, pode causar uma intoxicação ou queimadura, devido à química do produto. Aqueles mais abrasivos também podem causar queimaduras de contato nas patinhas e abdômen, por exemplo, por isso devemos retirar os animais do ambiente durante aplicação.

Outro caso que me chamou a atenção nos depoimentos nas redes sociais foi o de uma moça cuja gata estava estranha há vários dias. Depois de alguns exames que não apontavam nada, decidiram fazer um ultrassom que mostrou um corpo estranho no estômago dela. Foi necessária uma cirurgia. E o que foi encontrado? Aqueles fios de plástico de vassouras. A tutora até comentou que tinha flagrado a gata tentando comer isso tempos atrás, mas que tirava o objeto de perto da felina. Porém, a bichana deveria estar fazendo isso há meses, sem que ninguém notasse.

Bianca admite que é extremamente comum isso ocorrer com cachorros, mas também se vê isso com gatos: a ingestão de qualquer coisa que não seja um alimento ou tenha a função de ajudar na digestão (como as graminhas), o que é chamado de corpo estranho.

“O problema da ingestão desses objetos é que eles precisam sair do organismo, em alguns casos o animal acaba vomitando e defecando, sem causar prejuízos, nesses, o proprietário pode considerar que ambos, o animal e ele, tiveram sorte e evitaram maiores problemas. O corpo estranho pode ficar por meses ou anos no organismo, causando sérios prejuízos ao animal e até mesmo levando ao óbito. Lembrando que qualquer objeto afiado e/ou cortante, pode gerar uma lesão em algum órgão interno levando ao óbito”, adverte a médica-veterinária.

Animais engolirem agulhas também é algo muito comum. Eles veem a linha e começam a engolir e, junto dela, na ponta, a agulha.

“Esses casos são mais comum em gatos, chamamos de corpo estranho linear. São linhas que, ao serem ingeridas, acabam ficando presas às vezes embaixo da língua, ou em alguma parte do estômago/intestino, causando lesões graves e até mesmo perfurações. Por serem materiais de costura é comum encontrarmos agulhas em uma das extremidades da linha e, com isso, o animal acaba engolindo. Já peguei casos em que a agulha estava presa no céu da boca do gato, o que foi muita sorte para o animal, que não teve nenhuma lesão grave”.

Bianca conta que recentemente atendeu um animal que teve um quadro de intoxicação por conta do cheiro de silicone. A proprietária foi passar uns dias na praia e aproveitou para fazer pequenos reparos no apartamento, o animal apresentou muito desconforto e até vômito.

“Isto fez com que a tutora voltasse correndo para São Paulo para passar em consulta comigo. Assim que chegou, o animal já apresentou melhora só de ter saído do ambiente com o cheiro forte. Nós não notamos como o cheiro pode ser bem irritante para os animais, mas, como falei antes, eles têm o olfato mais sensível e podem sofrer bem mais que uma pessoa com rinite, por exemplo”.

Outro caso que a veterinária presenciou, foi quando trabalhava em um hospital veterinário e, durante uma reforma, foi usada uma tinta mais adequada para animais, em cuja a embalagem o fabricante afirmava ser sem cheiro, para evitar qualquer problema.

“Durante a reforma, foram pintando os ambientes aos poucos e isolando os animais para evitar qualquer desconforto. Realmente, nenhum dos pacientes ou internados apresentou piora ou qualquer sintoma, mas o mascote do hospital quase faleceu. Felizmente, o quadro foi revertido a tempo, e, na pintura seguinte, ele passou uns dias na casa de uma cuidadora para não correr riscos”, conta.

Até agora falamos mais de gatinhos, mas no caso dos cães, eles não precisam ser hiperativos como Marley para comer tudo. Bianca lembra que é muito comum eles apresentarem esse comportamento até mesmo por tédio, por ficarem em casa trancados sendo pouco estimulados. O animal acaba procurando o que fazer e, às vezes, engolindo algo que não devia. É mais comum em filhotes por não terem uma boa noção do que é para ser engolido ou não, mas pode acontecer em adultos, inclusive idosos mais “atentados”.

Já em gatos, a ingestão de corpo estranho em si não é tão comum, geralmente ingerem o corpo estranho linear, podendo ser elástico de dinheiro, cabelo e linhas no geral, como citado.

Bianca cita casos mais bizarros que aconteceram com ela: “Já atendi, mais de uma vez, cachorros que comeram lâmpada fluorescente. Acho curioso porque realmente é uma coisa que o tutor nunca iria pensar, mas, sim, já atendi três casos de lâmpada fluorescentes, sendo dois da raça Border Colie e um cão SRD. Outro caso foi de um bichinho de pelúcia que ficou no estômago do animal por três dias e, após o ultrassom, confirmamos a localização. Ele foi retirado por endoscopia, o animal foi para casa no mesmo dia como se nada tivesse acontecido”, conta surpresa.

Como além de veterinária, ela também tem pets, Bianca se lembra de dois casos pessoais: “Um cachorro filhote comeu um prego e eu só fui descobrir porque o deixei cair acidentalmente no chão. Corri para a emergência para poder fazer um raio-X. Durante o exame, enquanto eu estava preocupada com diafragma e coluna, na verdade apareceu um prego no estômago. E o meu cachorro não apresentou nenhum sintoma de corpo estranho”.

Porém, devido a queda, o filhote não podia ser operado, pelo risco de uma lesão no pulmão. Assim, ele ficou em observação por 48 horas, repetindo o raio-X a cada 8 horas para avaliar a localização do prego, que permaneceu no estômago dele por dois dias. A cirurgia foi marcada para o terceiro dia de internação pela manhã, porém, para alívio de todos os envolvidos, o cãozinho, durante a madrugada, expeliu o prego pelas fezes, evitando a cirurgia. Muita sorte a deste peludinho.

“Outro caso foi com o meu gato. Quando fiquei bem doente e, em consequência disso, meu cabelo caiu muito, eu fiquei quase careca. Varria e aspirava a casa todo o dia, mas meu cabelo era muito comprido e volumoso. Meu gato comeu tantos fios que acabou fazendo um corpo estranho linear. Acabei raspando a cabeça por causa dele”, confessa.

Bianca acrescenta casos bem interessantes de colegas também: “Uma atendeu um cachorro que engoliu uma agulha e essa acabou perfurando o estômago e indo parar no fígado e lá se alojando. Outra pegou o caso de um cachorro que ficou com um corpo estranho por mais de um ano, apresentando vômito. E teve um colega que pegou o caso de um Buldogue que comeu uma pilha, este, infelizmente, acabou falecendo, porque a pilha acabou se rompendo dentro do estômago dele”.

Acidentes acontecem, mesmo tomando todos os cuidados sempre existem riscos. Bianca aconselha que o tutor deve evitar ao máximo, para não facilitar, o acesso dos pets aos produtos de limpeza e objetos muito pequenos que podem ser engolidos por exemplo.

Como podemos ligar o tédio à ingestão desses corpos, é importante que o tutor estimule o animal comprando brinquedos próprios para eles, para evitar que brinquem com o que não se deve”, finaliza a médica-veterinária.

Fonte: Bianca Bennati é formada em Medicina Veterinária pela Unisa, especializada em nefrologia e urologia de cães e gatos. Atua como veterinária na clínica SPet junto a Cobasi São Bernardo do Campo.

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