Lembro-me da capa de uma revista de circulação nacional que apresentava uma pesquisa feita demonstrando que 99% da população brasileira afirmavam crer em Deus. Nossa população tem fé. A questão é, que tipo de fé temos?
No domingo, dia 28 de setembro, fiz minha prédica diante de minha querida comunidade, usando o texto antigo de Lucas (Lc 9.37-50), onde ele registra vários episódios de Jesus e seus discípulos. Nesses episódios, os discípulos revelam vários tipos de fé. Quero apresentar também aos leitores, para reflexão.
O primeiro tipo de fé que encontramos no texto de Lucas e também no Brasil é a fé inoperante. Uma fé que não faz sentido. Uma fé sem nenhuma relevância. Uma fé que não é capaz de produzir nenhuma transformação social. O registro de Lucas nos informa que um pai apresentou aos discípulos de Jesus um problema que envolvia seu filho único. Seu filho vinha vivendo uma vida indigna, sem nenhuma qualidade, vítima de uma ação maligna. Os discípulos de Jesus se mostraram completamente inoperantes. Não puderam fazer absolutamente nada diante da situação apresentada. Por vezes, nossa fé pode se mostrar completamente inoperante. Ineficaz. Incapaz de mudar a realidade. Somos desafiados a concretizar a nossa fé. Trazer a fé do campo do abstrato para o concreto, o tangível e historiável, com uma mudança da realidade usurpadora de vida.
O segundo tipo de fé é a fé ignorante. O texto de Lucas nos informa que o Senhor Jesus Cristo diz aos seus discípulos sobre a sua morte, “eles, porém, não entendiam isto…”. Completamente ignorantes. Por vezes, evidenciamos uma fé ignorante, desconhecendo a essência da missão cristã. Erramos por não conhecer as Escrituras nem o poder de Deus. “Crer é também pensar”. A fé cristã não é inimiga do conhecimento e do uso da inteligência. Podemos usar sem moderação.
O terceiro tipo de fé é o arrogante. O texto de Lucas nos informa de uma discussão entre os discípulos “sobre qual deles seria o maior”. Jesus os adverte usando uma criança como exemplo e ensinando uma máxima do reino de Deus: “…aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande”. A arrogância não combina com a fé cristã. “A humildade é a principal virtude para fé”, teria dito João Calvino. Nada mais falso do que uma fé arrogante. Não combina com o Cristo dos evangelhos.
O quarto tipo de fé é o intolerante. O texto de Lucas nos informa que o apóstolo João diz que tinha proibido um homem que afugentava as forças do mal, só porque o homem não fazia parte do grupo que acompanhava Jesus Cristo. Intolerância não combina com a fé cristã. Jesus Cristo ensina a tolerância e a caridade. Somos desafiados a uma fé operante, sábia, humilde e, sobretudo, tolerante.
Sem esses valores que devem acompanhar nossa fé, ela será uma fé irrelevante, sem capacidade de transformação social. O Brasil urge uma fé operante, visível e transformadora de realidades. Que Deus nos dê uma fé assim, que saia do abstrato e se materialize.
É isso!
Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho, Pastor Presbiteriano e Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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EXCELENTE.
OBRIGADO, PASTOR, POR SEUS ENSINAMENTOS EDIFICANTES.