Suspenses sempre despertaram interesse pois instigam a própria natureza humana

Suspenses sempre despertaram interesse pois instigam a própria natureza humana

11 de julho de 2024 0 Por Redação Em Notícia

Em entrevista, o escritor e jornalista Lucas Pagani fala sobre a importância do gênero de suspense na literatura nacional

Após um brutal assassinato repercutir nos noticiários na pacata e fictícia cidade de São Filipe, os moradores ficam em estado de alerta. Afinal, quem é o assassino? E quais as motivações? Agora, cabe à detetive Diana desvendar esse mistério e juntar as peças do quebra-cabeça. É neste contexto que surge o enredo de Baile de Máscarasromance de Lucas Pagani.

Muito além de um thriller com mentiras e mortes misteriosas, este suspense aborda as nuances da existência humana. Por meio de uma narrativa visceral, que concilia investigação criminal, questões psicológicas intrínsecas e protagonistas da terceira idade, o autor apresenta a história de Rui Córdova, que durante 50 anos nutria um amor por Vânia. Mas, antes que a mulher pudesse lhe contar um segredo do passado, ela é brutalmente assassinada.

Em entrevista, o jornalista comenta detalhes sobre este lançamento e as referências para a narrativa, destacando a importância do gênero de suspense na literatura nacional. Confira abaixo:

1 – Qual foi a sua principal inspiração por trás da produção de Baile de Máscaras? Por que decidiu enveredar pelo suspense e o que mais te atrai neste gênero? 

Lucas Pagani: Costumo dizer que meus personagens nasceram antes do enredo, pois fui construindo-os ao longo dos anos até amarrar as subtramas numa história maior. As primeiras ideias surgiram ainda entre 2010 e 2011, nas aulas de Redação do Ensino Médio. Sempre gostei muito de mistérios e o clássico Whodunnit. Então foi uma escolha natural que meu primeiro romance trouxesse elementos de investigação. Desde muito novo, lia autores americanos como Dan Brown e Harlan Coben e imaginava escrever um livro que fizesse o leitor virar uma página atrás da outra, com cada capítulo terminando num gancho de curiosidade.

2 – Nos últimos anos, temos visto um crescimento significativo do gênero de suspense na literatura nacional. Como você vê essa tendência e de que maneira Baile de Máscaras se insere nesse movimento?  

L.P.: Suspenses sempre despertaram interesse, pois a busca pela solução de um enigma costuma instigar a própria natureza humana. Com o avanço do audiovisual, acredito que as produções do gênero tendem a engajar o público, que consome horas a fio desse conteúdo, além, é claro, da febre dos documentários sobre crimes reais. De modo geral, esta temática e os arquétipos do detetive e do assassino prendem a atenção das pessoas.

– No livro, você aborda temas complexos como abortos clandestinos e fraudes médicas. O que o motivou a incluir esses tópicos na trama e qual foi o processo de pesquisa para tratar desses assuntos de maneira próxima da realidade brasileira?  

L.P.: Não tive a intenção de trazer essa temática como a principal, mas sim como um elemento a mais que contribuiria para a revelação preparada para o desfecho da trama, que na verdade pretende gerar reflexões sobre a natureza humana, os dramas e traumas familiares, as mentiras, o luto, as amizades, os amores não correspondidos. A solução dos segredos guardados pelos personagens passa pelo tema do aborto (que no início é abordado de forma leve e só volta à tona nas últimas páginas) não como um julgamento moral da parte do autor, mas como um fato que na vida desses personagens foi definidor e trouxe consequências.

Não se ignoram os muitos lados desse assunto na realidade, mas, na mentalidade e nas peculiaridades dos meus personagens, fazia sentido que essa ferida mudasse o rumo de suas vidas. Portando, eu a usei como catalisador dos acontecimentos que eu precisava que se desenrolassem na história, mas sempre com a intenção de explorar os sentimentos humanos, as dores, perdas, arrependimentos e o peso das escolhas, sejam elas quais forem.

– Os protagonistas do livro são majoritariamente idosos, que entrelaçam as vivências do momento atual da narrativa com o passado deles. Na sua perspectiva, qual a importância dessa visibilidade para pessoas da terceira idade, principalmente, em gêneros comumente consumidos pelo público jovem?  

L.P.: Sempre tive muito apreço pelos idosos. A cena de abertura do prólogo, por exemplo, brotou pronta na minha imaginação, e gosto do ar que ela transmite: o pátio de um asilo, idosos recebendo visitantes e tudo isso deixando um ponto de interrogação na mente do leitor — quando se vai ler sobre um assassinato num baile de máscaras, a última coisa que se espera é que essa história comece num asilo.

Além do inusitado, o destaque de personagens idosos enriquece a trama por permitir as idas e vindas no tempo e por explorar como mudamos ao longo da vida, como resultado de nossas escolhas e dos outros. As irmãs octogenárias Josefa e Quieta, por exemplo, são muito queridas pelos leitores e funcionam como dois lados de uma moeda: a velhinha senil institucionalizada e a senhora cheia de vitalidade que pinta os cabelos de verde e joga pôquer.

– A narrativa entrelaça eventos passados e presentes. Quais os desafios do escritor em equilibrar essas duas linhas do tempo e garantir que ambas se complementassem, para garantir clareza e a sustentação do mistério até o fim?  

L.P.: Isso exige muito zelo. Um livro de 300 páginas tem muito mais que ficam de fora da versão final, incluindo as biografias de cada personagem e a linha do tempo, que no meu caso foi bem minuciosa. Como leitor, sempre torci o nariz para contradições e quebras de coerência, então cuidei para que até os dias da semana fossem fiéis à realidade. A cena mais distante no tempo na minha narrativa é de algo entre seis e sete décadas antes da atualidade, por isso, é preciso planejar muito bem de onde se parte e quer chegar para que tudo se encaixe. Orgulho-me ao afirmar que não há furos nas marcações temporais da trama.

– Você se inspirou em grandes nomes da literatura de suspense para compor a sua obra de estreia, como Agatha Christie e o brasileiro Raphael Montes. O que você diria que tem de melhor desses autores na trama de Baile de Máscaras? E o que você tentou trazer de particularidade sua?  

L.P.: Eu mencionaria a possibilidade de a releitura ser uma experiência sempre nova. Baile de Máscaras é um livro de suspense, sim, mas a busca pela identidade do assassino e pela motivação do crime são ingredientes no meio de vários outros. Quem relê o livro fica surpreso com a quantidade de pistas que estavam plantadas desde o começo e a forma como tudo se encaixa, até os acontecimentos mais aleatórios. Raphael, por exemplo, tem momentos mais excêntricos como os de Jantar Secreto, mas também retrata traumas psicológicos com muita força, como no caso da Eva de Uma Família Feliz.

Acredito que meu livro combina esses elementos, ou seja, as soluções criativas necessárias para mover a trama e os mergulhos na cabeça e nas emoções dos personagens que fazem a história acontecer.

Sobre o autor: Lucas Pagani nasceu em Lages (SC). Formou-se em Jornalismo pela Universidade do Planalto Catarinense e trabalhou como repórter no Correio Lageano até 2017. Atuou na redação do jornal impresso e online, além de rádio e redes sociais. Depois, concluiu o curso de Direito e duas pós-graduações na área. Atualmente, concilia a carreira de escritor com o cargo de servidor público no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Baile de Máscaras é seu romance de estreia.

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