Ontem Saigon. Hoje, Cabul. Amanhã… Aqui?

Ontem Saigon. Hoje, Cabul. Amanhã… Aqui?

17 de agosto de 2021 4 Por Haroldo Barbosa Filho

No meio da Década de 70 do Século passado, um grupo liderado pelo maligno Pol Pot tomou o Camboja. O chamado Khmer fez jus ao seu sobrenome, tornando vermelho – de sangue – todo aquele território.

Nesta segunda Década do Século XXI, o das “tecnologias que promovem a interação e a consequente disseminação de conhecimento da verdade”, as cenas se repetem. Só muda o endereço: agora, é no Afeganistão. Com os mesmos financiadores e com o mesmo resultado: a submissão dos desistentes e a morte dos que não aceitam perder seu bem mais precioso, a liberdade. Até as cenas dos aeroportos apinhados de gente desesperada, a tentar fugir, são iguais.

“Ah, mas essas coisas ocorrem só do outro lado do mundo, bem longe do nosso imenso paraíso tropical”, dirão os que vendem a ideia de que pensar é cansativo. “Não ouçam os poetas, nem os historiadores: eles são contra a instituição de uma global e feliz shangri-la, afirmando que é só uma narrativa furada que está em um inexistente e perdido horizonte. Eles mentem: a verdade está conosco!”

Será?

Preste atenção no modus operandi deles. É sempre o mesmo: um dèjá vu.

Primeiro, agridem o sistema vigente de todas as formas possíveis, com retóricas e ações desestabilizadoras que incluem a violência, numa busca desenfreada para esgarçar todo o tecido social.

Em seguida, colocam uma cenoura na frente do que eles chamam de “massas”: a promessa de uma igualdade de condições para todos, escondendo-se que ela quer dizer, na verdade, privação total de oportunidades. Ou seja, eliminação da livre escolha a respeito do modo de viver e do desejo de expansão.

Por fim, procuram estabelecer o sistema que julgam ideal. À bala, assassinando pessoas que pensam diferente e também conceitos como o de família, de ir e vir, de livre expressão, de prática da espiritualidade. Sim, eles se mostram como os únicos seres superiores do Universo, os “salvadores”.

Não consigo imaginar como mudar a mentalidade desses extremistas tirânicos, pois são cegados pelo poder e não têm a menor consciência humanitária. Mas posso dar um alerta para que você estude a realidade do mundo e reflita, antes de cair em um canto da sereia que levará suas esperanças para profundezas abissais. Essa realidade, aliás, está logo ali, porque o planeta é menor do que se imagina. Sem o devido cuidado, poderá chegar facilmente aqui.

Resumo da ópera: ou cada um lê com atenção e faz a sua parte, indo pelo caminho certo, ou não terá mais o que ler. Até porque não haverá mais quem escreva a verdade para ninguém. Impossível ser mais claro do que isso.

Quando tudo estiver destruído,
o homem vai se colocar diante da paisagem
e, em seguida, fechar as mãos e os olhos
sem se dar conta da repetição
da mesma atitude mesquinha
que escolheu quando havia tempo.
Finalmente, sozinho e ensandecido,
bradará contra o céu
que comodamente imaginou,
passando a vagar no inferno
que de fato criou.
Haroldo Barbosa Filho

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