
Creio que poderia ser denominado como uma síndrome, mas nada mais é do que uma experiência que afeta muitos de nós. O que faz grande diferença é quando nos atinge ainda na flor da idade, na juventude, nos fazendo criar um padrão de pensamentos e atitudes que nos levam a repetir a forma de acreditar e vivenciar o amor.
Se os traumas de infância são capazes de nos influenciar a vida inteira, assim também pode acontecer com nossos primeiros amores, ou com o que acreditamos se tratar de amor.
Diz-se que existem várias formas de amar. Cada um ama como pode e como sabe, de acordo com o que aprendeu e recebeu. Se um determinado adulto nunca fui beijado e abraçado por seus pais, é possível e provável que o mesmo repita esse comportamento com seus filhos e parceiros (as). Mas a falta de beijos e abraços não implica necessariamente numa falta de amor.
É claro que um amor tranquilo, cheio de manifestações de carinho, gentilezas e cuidados costuma ser mais prazeroso do que outro que fica apenas à beira dos cuidados com a vida: pagar as contas da escola, preparar o almoço e se preocupar com a conta poupança e previdência.
Existem sim diversas formas de amar. E gosto de acreditar que todas elas, ou pelo menos a sua maioria, são válidas. Fato é que todos queremos ser amados, buscamos o amor em nosso pais, em nossos filhos, em nossos amigos e em muitos dos que nos rodeiam.
Mas quando vivenciamos um amor drástico na flor da idade, passamos por um trauma ao qual ainda não estamos preparados emocionalmente e psicologicamente. Se ainda possuímos a inocência de criança num corpo adolescente, o trauma de um amor drástico pode ser capaz de atingir todos os próximos amores de uma vida inteira.
Uma jovem que se torna mãe na adolescência e é abandonada logo em seguida, ou alguém que sofre um abuso sexual ou tortura psicológica, misturada às experiências e sensações de amor e paixão, a mesma passa a encarar a possibilidade de que amor sempre estará relacionado ao viver de uma dramaticidade.
Se a primeira experiência amorosa causa traumas, cria-se uma crença de que todo amor passa necessariamente pela dor, pela possibilidade do abandono ou da agressão, seja ela qual for. Passa-se a encarar uma forma de amor não saudável (ou doente) como algo natural. Leva-se tempo para perceber que existe uma forma de amor saudável, que não machuca e que não destrói.
Existem diversas formas de se relacionar, mas nem todas são nocivas. Pode-se conhecer uma pessoa e permanecer ao lado dela por um tempo e perceber que esta não é a melhor das relações. Decide-se o término da relação amorosa e passa-se a ter uma relação de amizade. Ocorre que um amor pode sim: começar, existir e terminar sem obrigatoriamente deixar traumas.
Existem formas de amar que não são drásticas e nem dramáticas. Mas se quando jovem se inicia as experiências assim, é provável que anos sejam necessários, para se descobrir o amor saudável, que querendo ou não sempre começa por e em si mesmo.
Vivemos numa sociedade que não está carente apenas de amor, mas do amor que constrói, que faz crescer e não machuca quando vai embora, mas que sim, deixa algo acrescentado no final.
Descobrir que amor não precisa doer em nenhum momento: início, meio ou fim, pode ser a chave para se encontrar aquele amor, que finalmente valerá a pena.
Começa naquilo em que acreditamos e como acreditamos!