“Fragmentos”, de Pedro Cirri, esmiuça o cotidiano de uma classe privilegiada e idiossincrática

10 de abril de 2024 0 Por Redação Em Notícia

“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”

A máxima de Liev Tolstói é guia do autor em seu primeiro livro. Inspirado em clássicos russos, é detalhista dos ambientes, do gestual e do comportamento dos personagens. Sai pela editora 7 Letras.

Nas páginas de “Fragmentos” entram em cena os parentes mais próximos ao narrador. Acabam escancarando comportamentos peculiares e, de certo modo, pobres e em completa contradição com suas posses e possibilidades. Mostram-se vazios, superficiais, algumas vezes irônicos e ácidos nos relacionamentos. Assim, o livro revela força narrativa, mesmo no retrato de cenas de vidas vazias e angustiantes.

Na descrição dos personagens, o narrador aproxima-se de sua família. É sua tentativa de ser cada vez menos um “Homem Supérfluo”. Cirri usa a definição que Samuel Junqueira apontou no posfácio à obra de Ivan Turguêniev para fazer um tipo de autodenúncia: enumera “jovens de uma classe privilegiada dotados de uma suposta moral, só que inertes, paralisados em suas próprias reflexões”.

Esclarecimentos da nota do autor combinados com a narrativa em primeira pessoa leva-nos a supor uma grande sobreposição entre autor e narrador. Não à toa, a narrativa inicia-se com um olhar mais julgador e transaciona para a compreensão. Reflete o próprio percurso de Pedro, de advogado de fusões e aquisições para psicanalista.

Pedro Cirri nasceu em São Paulo em 1984. Formado em Direito, com mestrado em Chicago, trabalhou por dez anos como advogado de fusões e aquisições de empresas. Hoje, estuda e trabalha com Psicologia e Filosofia. Fez a Formação de Escritores em Não-Ficção do Instituto Vera Cruz.