Em que Brasil você vive?

Em que Brasil você vive?

23 de agosto de 2021 3 Por Haroldo Barbosa Filho

A uma plateia atenta, um grande filósofo colocou que há dois Brasis. O primeiro, habitado pelos maus, os que pensam apenas em si e procuram sugar tudo, numa insaciável fome de poder e dinheiro.

O segundo, por sua vez, formado por esses jovens – em idade e espírito – que expõem sua esperança no brilho dos olhos, que desejam a pura felicidade, voz e oportunidades iguais para todos.

Aplaudo o filósofo, de fato, um notável que desnuda a realidade. Porém, apresento um terceiro Brasil, o dos que vivem a angústia do momento.

É o meu caso.

Gostaria de não ver um confronto entre os que querem impor seus delírios de dominação e os que acalentam sonhos, sabendo que um eliminará o outro.

Os ditos autoritários e senhores da verdade fazem de tudo para vencer. Sem consciência alguma, procuram enevoar o desenvolvimento saudável da consciência dos outros até fazê-los acreditar em um canto de sereia que aniquilará sua
liberdade. Eles alardeiam a palavra democracia e tecem mordaças. Da mesma forma, veem seus semelhantes apenas como uma massa possuidora de ouvidos e nenhuma boca, por isso, convenientemente alienada e à sua mercê.

No entanto, assim como a Cassandra mitológica, que antevia as coisas e não se sentia acreditada, a razão que está em meus cabelos já ralos e prateados diz que o grande choque está ocorrendo neste momento, que ele vai piorar e decretar o destino. Bom e saudável. Ou absolutamente sombrio.

Rezo para que todos os meus irmãos acordem, queiram viver no segundo Brasil do filósofo e lutem por ele.

Um Brasil sorridente e que tenha todos os motivos para isso. A começar pela liberdade de pensar, se expressar, enfim, de ser. Um Brasil que dê valor ao respeito e à honestidade, ao patriotismo e à fraternidade, bases para o desenvolvimento de uma nação justa e saudável.

E que as próximas gerações conheçam o primeiro Brasil somente através dos livros de história, a contar sobre a poluição de águas passadas.

Enquanto isso, fico aqui, a produzir minhas mezinhas poéticas. Um bardo, tentando aquecer as almas através de seus versos…

GRITO NATIVO

Eu, você, eles,
vivemos desde a noite dos tempos
e aguardamos para ser luz.
Quando esse momento chegar,
então ajudaremos a irradiar o dia,
um dia sem tempo para terminar.
Nosso destino é acender para ascender,
uns mais rápido, outros bem devagar.
Cada um tem, de verdadeira, esta liberdade:
a de escolher a velocidade de sua jornada.
Assim somos e assim pensamos,
como guaianás, tamoios e guaranis-kaiowás.
Também aprendemos a não dar valor
à terra deste hoje tão curto,
mas aos nossos antepassados,
cujos corpos nela repousam.
Eles nos deram seu amor e seu sangue
para que tivéssemos a oportunidade
de ganhar mais uma centelha da luz
da qual falamos e poucos ouvem,
que mostramos e, em seu cego egoísmo,
quase ninguém quer ver.
De resto, a terra é simplesmente
ajuntamento de pó,
que logo ficará distante,
perdido nos confins da maldade,
esquecido na noite dos tempos.
(Do livro “Um dia, uma vida” – Haroldo Barbosa Filho – www.clubedeautores.com.br)

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