A carta mais importante de um País embaralhado

A carta mais importante de um País embaralhado

10 de setembro de 2021 2 Por Haroldo Barbosa Filho

Pouco entendo dos empregos místicos das cartas de certos baralhos.

No entanto, ouso usar esse conjunto de cartões com figuras coloridas para colocar algumas coisas que penso a respeito do que estamos vivendo neste momento.

Por exemplo, acredito que em determinadas situações, não se deve misturar as cartas do baralho, senão organizá-las por sua importância e escolher aquela que traduza melhor qual deve ser a atitude a ser tomada para a melhoria do bem-estar de todos.

Ou seja, ao invés de embaralhar, cujos sinônimos são confundir, atrapalhar, emaranhar, atravancar, embaraçar e, no final das contas, prejudicar, muito mais razoável é desembaralhar, procurando-se o caminho para a ordem que, aliás, é a primeira palavra estampada em nossa bandeira.

O caminho que, concluo, é traduzido pela carta da Temperança. Poderia escolher uma outra, como a da torre em ruínas, do cavaleiro a brandir uma espada ou até a do louco.

Mas, o que eu e meus semelhantes ganharíamos com uma dessas escolhas? Dor, atraso, esperanças desfeitas, terra arrasada e à mercê de oportunistas… Quem poderia querer esse resultado, pouco se importando com a própria
consciência, senão os partidários do “quanto pior, melhor”? Os que colocam a sede de poder e as vaidades pessoais acima da razão? Os que preferem regimes autoritários à verdadeira democracia?

Seres assim sempre surgiram ao longo da história e tiveram o mesmo fim. Eles continuam brotando e é preciso combatê-los. Só que é preciso fazê-lo com as armas certas, do jeito certo. Aceitar suas provocações, muitas vezes, é um erro… porque é justamente o que querem.

Coloco mais um ingrediente nessa situação: o mundo está repleto de problemas, machucado por uma terrível pandemia e com muitos atritos nas placas tectônicas de sua geopolítica. Da mesma forma, há quem deseja globalizar seus tentáculos. Nosso país não pode colocar em risco sua soberania, sua liberdade. E, para isso, precisa usar a inteligência.

Alguns podem não concordar com isso, afirmando que, diante de tantos malfeitos, desmandos, ameaças e ofensas praticados aqui e ali, as vozes mais fortes da democracia precisam chutar o balde e partir para as vias de fato. Eles esquecem que, no meio dessa disputa, está o povo vulnerável e ele pagará o pato, caso ocorra o caos.

Lembro mais uma vez: o país não está lidando com uma brisa passageira, mas com um furacão. Ele é forte e quer o confronto. O pânico e as atitudes sem método, com cada um correndo para um lado, só jogarão a favor dele. Só é possível superar a tormenta com união e sangue frio.

O que o furacão fará? Tudo que puder. Por exemplo, nesse instante de tentativa de reflexão ficará incitando para que avancem em sua direção e o combatam, chamará os resistentes de covardes, rugirá no alto das montanhas, enfim, fará o diabo para que se perca a cabeça, partindo para cima dele. Isso só facilitará seu trabalho, o de puxar todos para seu imenso redemoinho e tirar para sempre sua liberdade. O furacão não quer que se pense, que se use a razão.

Todos já viram o que a primeira parte do furacão causou ao país entre anteontem e ontem. Agora, estamos em seu olho: é preciso aproveitar para respirar fundo e ficar preparado para a passagem da segunda parte. Por isso, é fundamental manter a atenção nas nuvens que se aproximam e no aumento das ventanias.

Não se trata de aceitar o furacão e se submeter placidamente a ele, mas entender ainda mais como age, reunindo forças para enfrentá-lo e vencê-lo. O nome disso é estratégia. É o que, acredito, indica a carta da Temperança.

Haroldo Barbosa Filho

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