“A arte torna possível que a gente vá para um lugar de compreensão, conforto ou reflexão”

“A arte torna possível que a gente vá para um lugar de compreensão, conforto ou reflexão”

8 de outubro de 2024 0 Por Redação Em Notícia

Autora do best-seller “O Abismo de Celina”, Ariani Castelo conta sobre os desafios de escrever personagens complexos e a importância de se conectar com as emoções dos leitores

A literatura de fantasia pode ser um ótimo espaço para discutir temáticas densas e trazer reflexões sobre questões do cotidiano. Um bom exemplo disso é o romance O Abismo de Celinapublicado pela editora Rocco. Com personagens de moral duvidosa e ambientes sombrios, a autora Ariani Castelo relata a jornada de uma heroína disposta a enfrentar seus medos e traumas para ter a chance de um futuro digno. 

Ao acordar sem memória no Abismo, a jovem artista Celina precisa unir forças com um grupo de desconhecidos para triunfar perante os desafios da Morte – uma figura tão enigmática e cruel quanto bela e generosa. Em meio a diversas reviravoltas e quebra de expectativas, a protagonista irá questionar os limites entre o Bem e o Mal, além de refletir sobre o poder salvador da arte.

A autora falou sobre estes e outros temas na entrevista abaixo:

1. “O Abismo de Celina” explora temas profundos e complexos, como saúde mental, relações familiares disfuncionais, vícios e relacionamentos abusivos. O que a motivou a escrever essa história? Por que decidiu abordar esses assuntos a partir de uma fantasia sombria?

Ariani Castelo: Escrever O Abismo de Celina foi uma maneira de entender meus próprios sentimentos, trazendo para a superfície certos questionamentos, medos e emoções desagradáveis das quais eu fugia. Eram coisas que eu precisava colocar para fora, e eu sabia que alguns — ou muitos — leitores iriam me entender. Para isso, explorar a história a partir de uma fantasia sombria me pareceu bastante ideal, afinal, os temas podem ser trabalhados de maneira muito mais intensa. O mundo fantástico, a relação complexa entre os personagens… tudo colabora para levar os conflitos da narrativa ao limite.

2. A protagonista Celina enfrenta uma emblemática jornada interna, em que ela precisa encarar as próprias feridas para superar obstáculos. Como foi o desenvolvimento dessa personagem? O que você espera que ela represente para os leitores?

A.C.: Desenvolver a Celina foi uma experiência e tanto. Ela é uma garota que precisou assumir responsabilidades grandes demais para a sua idade; nós duas temos isso em comum. Convivi com uma avó que lidou com o vício por um bom tempo, de modo que, aos oito anos, era natural que eu a vigiasse, procurasse bebidas pela casa ou jogasse algumas fora quando as encontrava. Experiências assim ajudam a moldar a gente, mas não são tudo. Quis transmitir isso através da protagonista. Então, sim, as feridas estão ali, mas ela também é uma pessoa gentil, que ama pintar, adora paisagens bonitas e o seu gatinho.

Espero que Celina possa abraçar os leitores que, de algum modo, já estiveram no abismo e que os ajude a entender seus próprios sentimentos. Além disso, ela fala sobre como pedir ajuda pode ser um ato de coragem, uma mensagem que eu, particularmente, acho muito importante.

3. Além de uma heroína complexa, você se debruça sob a própria Morte, uma figura enigmática e cruel, mas que também pode ser bondosa. Quais foram os desafios enfrentados na hora de explorar a complexidade de um vilão? Por que você tomou essa decisão de mostrar os vários lados da Morte?

A.C.: A Morte (ou Odilon) foi um personagem interessantíssimo de se trabalhar e, por incrível que pareça, ele “chegou” para mim praticamente pronto. Eu entendi muito rapidamente seu humor, seus conflitos, seu lado cruel e até sua parte mais gentil. Talvez a parte mais desafiadora tenha sido deixar que ele fosse o que de fato era: um vilão (mesmo que não apenas isso). Foi importante mostrar vários lados seus não apenas porque ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim, mas também porque gosto de levar o leitor a confrontar seus limites morais. As atitudes de Odilon são perdoáveis? Ele deve ser odiado? Diferentes leitores chegam até mim com diferentes respostas para essas perguntas e eu amo isso, pois significa que criei um personagem digno de discussão.

4. Em “O Abismo de Celina”, a protagonista é uma artista que vê na arte uma forma de salvar a si mesma, apesar da vida obrigá-la, por vezes, a seguir outro rumo para cuidar da família. Na sua perspectiva, qual o papel da arte e da literatura para lidar com questões internas?

A.C.: A arte, entre outras coisas, torna possível que a gente vá para um lugar de compreensão, conforto ou reflexão. Quando pensamos na literatura, por exemplo, muitas vezes conseguimos ver nossos próprios dilemas sendo vividos por personagens que, embora fictícios, muitas vezes carregam os mesmos traumas, anseios, desejos etc. Isso é incrível porque permite novas perspectivas e entendimentos, já que refletimos sobre nossas questões sob uma ótica diferente. Durante a Bienal, diversos leitores me contaram que se viram na Celina, discutiram o livro na terapia, e eu fico muito satisfeita de ver esse tipo de conexão acontecendo e proporcionando diálogos!

5. “O Abismo de Celina” foi primeiro publicado de forma independente, alcançou a lista de mais vendidos da Amazon e agora ganha uma versão pela editora Rocco. Como sua presença nas redes sociais alavancou o sucesso da obra? Que temas você considera que se aproximaram mais dos leitores?

A.C.: Acredito que a minha presença nas redes foi um dos fatores que colaborou, sim, para o sucesso do livro! Os anos que trabalhei como produtora de conteúdo me deram uma ótima noção de como dialogar com o público, e eu amo fazer vídeos e postagens que tragam a premissa do livro de maneiras diferenciadas! Sobre os temas que mais se aproximaram do público, acho que o principal deles é o mais discutido no livro: a morte. Muitos evitam falar sobre esse assunto, mas é algo do qual ninguém escapa e quase todos sentem curiosidade sobre. Por isso, alguns leitores já arregalam os olhos quando conto que tenho um livro que trabalha esse tema tão emblemático a partir da figura de um vilão.

6. Quais são seus próximos projetos literários? Podemos esperar novas obras explorando temas tão complexos como os de “O Abismo de Celina”?

A.C.: Definitivamente, quero continuar trabalhando temas complexos em histórias de fantasia! Os próximos projetos permanecem em segredo, mas posso dizer que incluem uma fantasia urbana que se passa no Rio de Janeiro e uma alta fantasia que possui um sistema mágico com o qual estou amando trabalhar!

Sobre a autora: Ariani Castelo é formada em Letras (UFRJ) e começou a carreira como criadora de conteúdo na internet com o blog “Sentimento do Leitor”, onde fazia indicações e resenhas literárias. Hoje reúne mais de 110 mil seguidores em suas redes sociais, e dedica-se exclusivamente à escrita. Publicou em 2023 o livro O Abismo de Celina de forma independente pela Amazon e alcançou o Top 100 das obras mais vendidas da plataforma. Agora publica uma nova versão pela Rocco, que também chegou no topo de vendas no e-commerce.

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