Arie Halpern: privacidade de dados pode ser o fim dos aplicativos gratuitos?
24 de junho de 202124/6/2021 – Outro movimento das duas big techs é priorizar o processamento local, ao invés de usar os serviços na nuvem.
Recursos para proteger a privacidade dos usuários dão novo impulso ao debate sobre coleta de dados.
O debate sobre a privacidade de dados ganhou novo impulso com os recentes anúncios do Google e da Apple de recursos que dão aos usuários de seus dispositivos mais transparência e controle sobre a coleta de dados.
A revelação de que a nova versão do sistema operacional iOS terá um novo recurso de privacidade de dados foi o ponto alto da conferência anual da Apple. Muito aguardada pela comunidade de desenvolvedores, ávidos por saber as novidades na área de programação, e pelo público em geral, a Worldwide Developers Conference (WWDC) deste ano teve a privacidade como tema principal.
O iOS 15 trará um recurso que informa ao usuário quais dados estão sendo coletados pelos aplicativos ao terem acesso a áreas do dispositivo, como álbum de fotos, lista de contatos ou microfone. Recentemente, o Google anunciou que a versão mais recente do sistema operacional Android tem um recurso para proteger dados confidenciais no dispositivo, chamado Private Compute Core.
As novidades da Apple incluem também o bloqueio no rastreamento de e-mails (pelo qual é possível confirmar se o e-mail foi aberto) e o roteamento do tráfego da web usando dois servidores, para evitar que os provedores consigam identificar o IP que está usando a internet. Batizado Private Relay, o recurso é similar à rede privada virtual, ou V.P.N., usada por algumas empresas.
Fuga da nuvem
Outro movimento das duas big techs é priorizar o processamento local, ao invés de usar os serviços na nuvem. Geralmente, os dispositivos móveis enviam os dados do usuário para a nuvem para realizar algumas tarefas que envolvem aprendizado de máquina, como sugerir palavras ou respostas. A preferência agora é delegar essas tarefas aos seus próprios dispositivos. Além de reduzir o risco de expor dados, isso faz com que o processamento seja mais rápido.
As mudanças para proteger a privacidade dos dados dos usuários trazem limitações e, em alguns casos, inviabilizam o negócio de muitas empresas que dependem da coleta de dados e do rastreamento para oferecer anúncios personalizados, por exemplo, e monetizar seus serviços. A publicidade direcionada com base nas atividades dos usuários na internet é responsável por quase toda a receita do Facebook.
O Facebook acusou o golpe, afirmando que a mudança é uma estratégia para acabar com a concorrência, uma prática anticompetitiva. E assim como outros aplicativos, alerta que a medida pode ser responsável pelo fim dos serviços gratuitos – ou nem tanto, pois, embora não haja cobrança em moeda, o pagamento é feito com os dados.
Alguns especialistas argumentam também que a medida é uma forma de isolar e manter os usuários sob controle no ecossistema das empresas e gerar receita cobrando um percentual sobre as transações feitas em suas lojas de aplicativos.
Como se vê, este é um debate que parece longe de um final que permita chegar a um equilíbrio benéfico entre privacidade de dados, serviços eficientes e concorrência saudável.
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