Estrangeiros aportaram mais de um bilhão na bolsa de valores em um único dia
10 de fevereiro de 2022Embora o número de investidores cresça no país, ainda há um grande número de brasileiros que precisam de conhecimento para perder o medo de investir
Os dados da B3 mostram que o número de investidores brasileiros na bolsa cresceu 43% em 2021, mas a falta de conhecimento ainda é um entrave, conforme explica o investidor profissional Rafael Rueda Muhlmann.
Os investidores estrangeiros aportaram no segmento secundário da B3 (ações já listadas) R$ 1,05 bilhão em recursos na última sexta-feira, dia 4 de fevereiro. Neste dia, o Ibovespa fechou em alta de 0,49%. Com isso, o acumulado mensal alcançou R$ 4,94 bilhões e o anual chegou a R$ 37,43 bilhões.
Também no dia 4 de fevereiro, os investidores brasileiros que são pessoas físicas sacaram R$ 552,2 milhões líquidos na B3, reduzindo o superávit mensal para R$ 359,6 milhões e ampliando o déficit anual para R$ 6,37 bilhões. As informações foram divulgadas pela própria B3 – bolsa de valores oficial do Brasil, sediada em São Paulo. Enquanto investidores brasileiros têm deixado a bolsa, os investidores estrangeiros seguem na direção contrária adquirindo ativos.
As ações de algumas das maiores empresas do país têm sido negociadas a múltiplos descontados e em alguns casos até abaixo do seu valor patrimonial, destaca Rafael Rueda Muhlmann, que é investidor profissional desde 2011. “A falta de educação financeira e o medo de investir que ainda se mantém enraizado na cultura dos brasileiros impede que as pessoas percebam oportunidades claras como estas que os estrangeiros já perceberam, em que os lucros recentes apresentados por muitas das empresas listadas na bolsa já seriam suficientes para confirmar que as mesmas estão descontadas e carregam um alto potencial de valorização”, afirma.
Conforme os dados disponíveis no portal de consultas da B3 e também nos relatórios de diversas casas de análise, fica evidenciado que em alguns setores como o de tecnologia e varejo, as empresas perderam 50%, 70% do seu valor em um ano sem nada que justificasse tecnicamente as quedas. Basta uma consulta do site de RI das empresas para constatar que a maior parte delas manteve os mesmos controladores, os mesmos produtos, as mesmas marcas e a mesma lucratividade.
Algumas destas empresas aproveitaram o cenário dos últimos anos e inclusive ficaram mais eficientes, comprando competidores que estavam em situação financeira ruim, como mostra um levantamento divulgado nesta segunda-feira (7) pela KPMG, o que justificaria um aumento no valor das ações e não uma queda.
No relatório a KPMG destaca que as operações de fusões e aquisições no país encerraram o ano de 2021 com um desempenho recorde. Foram, ao todo, 1.963 transações que aconteceram ao longo dos doze meses, uma alta de 59% em relação a 2019 — que era, até então, o melhor ano da série histórica, iniciada em 1996. A maioria das transações foi doméstica, ou seja, realizada entre empresas brasileiras. O último trimestre de 2021 foi responsável por quase um terço das operações de todo o ano, registrando um recorde de 602 negócios concluídos.
Na manhã da última terça-feira (8), foi divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a qual não trouxe sinalização clara sobre a magnitude das próximas altas de juros, apesar de ter sinalizado que ela deve ser de menor intensidade do que no último encontro, quando o Banco Central elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Contudo, o teor do documento, considerado hawkish (duro com a inflação) trouxe algumas sinalizações que muitos analistas estavam esperando após a decisão do Copom, uma vez que o recado após a decisão foi considerado dovish (mais suave com relação à inflação).
Os integrantes do comitê tornaram, com a ata, mais clara a necessidade de juros mais altos e por mais tempo até que a convergência à inflação fique mais evidente, apontam economistas. Assim, muitos dos especialistas que viam o ciclo de alta encerrando-se em breve, revisaram ou passaram a considerar uma revisão de suas projeções para uma Selic terminal mais alta e para avanço de juros além da reunião de março.
Com a inflação começando a se normalizar e o Banco Central parando de subir os juros, muitos ativos podem voltar a ser reprecificados para cima, explica Rueda. “O Brasil está ficando muito interessante para investir”, diz. “A taxa de juros está alta, mas acredito que vai liquidar a inflação. Isso mostra que o Banco Central está disposto a estabilizar a economia”, complementa.